quinta-feira, 2 de abril de 2015

Um grito, um choro

Sentei  a poucos metros do gramado, quase no mesmo nível deste. A voz a minha frente foi aos poucos sumindo, e outra, longínqua, tomou o espaço.
Era pequeno, daquela época em que os sons são apenas sons...importante esclarecer, desde já, que a falta de capacidade de discernir entre este ou aquele não significa que sejam desprovidos de sentido, não, longe disso.
Fui arrancando de meu descanso com um grito...estava no berço, tranquilo, ainda que o ambiente estivesse imerso em tensão. Acordei assustado e claro deixei para todos, tamanha a choradeira que se seguiu.
Meu pai, de olhos fixos na televisão, saltara do sofá...braços estendidos, boca escancarada...Gooolllll!
Era o segundo da seleção brasileira. Final de Copa do Mundo.1970. Brasil e Itália.
Eu tinha seis meses de vida...agora, cá estou eu no Estádio Azteca.
Senti saudade de um tempo que não vivi. Senti saudades de abraçar meu pai e ouvi-lo contar como nossos jogadores desfilaram por aquele gramado...
Goooolllll!! Gritava um senhor ao meu lado, a pedido da guia que conduzia a visita. Ao longe, o eco das vozes de um pequeno grupo de quinze pessoas.
Gritei também!!! Pena que meu pai não estivesse ali...de certo, juntos choraríamos...