terça-feira, 29 de setembro de 2009

Do outro lado

Gotas minúsculas, sequer escorrem pelo vidro. Formam desenhos que só a imaginação pode criá-los. Não estão lá para quem não quer vê-los...no fundo, o reflexo da luz. Uma outra janela, mais fechada que aberta. Um pedaço de cortina que se permite ver. Um vazio. Observo por alguns minutos, ninguém se mostra.
Mas há alguém, deve haver alguém. Percorro com o olhar a fachada do prédio. Volto à janela. A única com uma luz, amarela, suave...nem uma sombra, nem um movimento. Talvez alguém tenha dormido sem se dar ao trabalho de desligar a luz...talvez, de propósito, tenha deixado acesa com medo do escuro...talvez esteja no outro canto do quarto onde a vista não alcança, trabalhando, lendo...talvez esteja ao telefone, talvez...nenhum movimento ainda, nada. Talvez esteja em outro ponto, no escuro a me olhar, observando.
Me incomoda o pensamento. Apago a luz!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Amigo, de quem???

Uma imagem reveladora, uma frase que escancara. Nem todos que ali estão percebem, mesmo que todos que ali estejam tenham a obrigação de perceber. É nas sutilezas que as histórias se diferenciam.
Todos os microfones estão a postos, tomam a mesa. Atrás dela, suspeito e delegado. É uma entrevista coletiva, onde quem vai acusar divide a cena com quem "deve ser acusado", amigavelmente. Aliás, o delegado apresenta o suspeito como "nosso amigo Sandro".
O amigo dele é o dono da loja de fogos de artifício que explodiu na semana passada, em Santo André. Duas pessoas morreram, doze ficaram feridas, dezenas de casas destruídas...Sandro desapareceu por três dias, escapou do flagrante.
Não acho que ele deve ser condenado a priori, nem pela polícia, nem pela imprensa. Tudo pode ter sido uma fatalidade e não resultado da irresponsabilidade do proprietário. Havia até então a suspeita de que ele fabricava os fogos, apenas suspeita...
Agora, delegado e suspeito de um crime lado a lado em uma entrevista coletiva não lembro de ter visto. A não ser que sejam mesmo bons amigos...aí, por favor, convidem a imprensa para uma grande pizza.

sábado, 26 de setembro de 2009

Um brinde

Verde, um verde translúcido. Dois dedos apenas no copo e uma pedra de gelo mergulhada. Na boca um gosto de ervas, forte. Não queima, mas a sensação é de ardor. Ganhei de um casal de amigos, bons amigos...
É meu brinde a chegada do final de semana. Madrugada adentro e um vento gelado entrando pela porta da varanda entreaberta. Eu, o copo de licor e o cigarro. Já dizia Lobão, quando menino eu ainda era, tudo isso não é vício...são companheiros da solidão...
Não aquela que sequer pede licença para entrar em nossas vidas, não. Sozinho comigo, com meu espaço, com minhas dúvidas e certezas, com minhas próprias vozes, com meu silêncio. Quando embalado por uma canção ao fundo, baixinha, nada melhor. É como visitar minha história, refazer os caminhos que me trouxeram até aqui ou imaginar as bifurcações que ainda terei pela frente.
Um tempo, raro tempo para saborear a vida!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sempre bandidos e mocinhos

A vítima libertada, o bandido morto. Um tiro na cabeça.
- Uma ação bem sucedida da polícia...com muitos aplausos da população.
Foi assim que a repórter da rádio CBN terminou a matéria sobre um assalto seguido de sequestro, hoje, no Rio de Janeiro.
Como assim, amiga?
É até compreensível que como cidadã ela tenha o discurso do senso comum. Há, sim, um clamor popular por respostas mais severas da polícia em relação aos criminosos, fruto, em muitos casos, da própria insegurança.
Agora, amplificar o discurso em rede nacional é, no mínimo, falta de responsabilidade. Não é tarefa nossa atribuir juízo de valor aos fatos, portanto, não tem cabimento dizer que a ação foi " bem ou mal sucedida".
Os atiradores de elite são uma opção tática da polícia, treinados e amparados na lei. Não são heróis, como ouvi o apresentador de um dos programas da tarde dizer. Também não devem ser considerados vilões quando erram...são profissionais, pagos pelo Estado, com a função primeira de preservar vidas, qualquer que seja.
Fujamos dos arquétipos!!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Ah, o alvará!

É curioso como as coberturas jornalísticas ganham sempre um tom. No caso da explosão da loja de fogos de artifício em Santo André parece que é a negligência... do proprietário sim, da prefeitura sim. Um porque não seguiu as normas de segurança e sequer tinha licença para funcionar, o outro porque não fiscalizou como é sua obrigação.
Mas no enredo dessa história faltava o drama, aquele ingrediente capaz de sensibilizar as pessoas, de fazê-las parar por um instante e prestar atenção no desenrolar dos fatos.
Na tarde de hoje, a explosão! Imagens captadas pelo celular pipocaram na internet; helicópteros no ar; ritmo frenético nas redações. Uma, duas, três, sabe-se lá quantas vítimas... A história do comerciante que vendia fogos de artifício sem licença e da prefeitura que não fiscalizou está sendo finalmente contada....a história que nós jornalistas negligenciamos.
Mais de 80% dos estabelecimentos comerciais em São Paulo não têm alvará de funcionamento, resultado tanto da burocracia do sistema, quanto da má-fé.
Lembro de um amigo que me dizia sempre que o leitor, o ouvinte ou o telespectador nos dá todos os dias um "alvará" para falar em nome deles, cobrar quem deve ser cobrado. Negligenciar a isso é como deixar a nossa licença perder o prazo de validade...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ainda é tempo

A terça já se foi...que venha a quarta-feira. Madrugada ainda...ainda não jantei, ainda não veio o sono, não desliguei ainda. Pelo contrário, despertei!
Acabara de navegar por um blog (http://www.umacasaoutravida.wordpress.com/) de um trabalho de conclusão de curso. Me senti incomodado.
Dois meninos, três meninas. Classe média, famílias estruturadas, até onde eu sei...cursam o último ano de jornalismo.
Estão descobrindo agora que lá fora há um mundo muito maior que o mundo deles. Cruel, inóspito, duro, por tantas vezes sem perspectiva. Dói, como dói...
Não há mais segurança, não há mais certezas absolutas. A dúvida é a nova companheira. Quem sempre discorreu sobre tão diversos assuntos com a petulância da juventude, aprende a ouvir.
Novos sentimentos vão sendo forjados. A repulsa, a empatia, o desejo de fazer algo. A realidade vicia-nos...queremos mais, sempre mais!
Por alguns instantes nos sentimos culpados. Bebemos desse elixir, mas não nos parece correto. A sensaçao não nos impulsiona à ação...ressaca!
É hora de vomitar, por para fora aquilo que engolimos. Conte-nos as histórias, cada gole, cada trago...e brindemos!
Ainda é quarta-feira, ainda há um longo caminho a percorrer, ainda é tempo de fazer jornalismo de qualidade...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Bronca

- Entrei no blog e o último texto é de sábado?!
Uma mistura de bronca e decepção...e ela tinha razão, afinal escrever diariamente é o mínimo de respeito com quem se dá ao trabalho de ler o que acho que tenho para dizer. Enfim...
Nesses últimos dias algo tem me incomodado. Conversando com alguns amigos levantamos diversas histórias de jornalistas que usam a profissão em benefício próprio. E nada, nada é pior que isso.
Imagine-se em uma cobertura de apreensão de material pirata. Milhares de bonés falsificados. Sem a menor cerimônia o colega pergunta para o delegado:
- Posso levar alguns pra mim??
Não amigo, não pode... mesmo que essa não tenha sido a resposta da "autoridade". Aliás, não poderia sequer perguntar. É crime, é indecente, é porco!
O que você diria se um policial, ao conseguir recuperar um produto roubado, como uma quantia em dinheiro, por exemplo, se apoderasse de uma parte para ele?
Com que moral podemos falar de assuntos como esse, se agimos tal qual o bandido? Não é uma questão de valor da mercadoria, mas de princípios.
Lembro de uma reportagem que queríamos fazer sobre fraudes cometidas na renovação da carteira de habilitação. Uma jornalista, com o limite de pontos já ultrapassado, se dispôs a emprestar o documento para que mostrássemos como funcionava o esquema que retirava a pontuação do motorista. Feito isso, entregaríamos a carteira para o Detran e questionaríamos o órgão sobre a fraude.
- Não, aí não. Quero ficar com o documento limpo.
Pouco importa se isso era completamente contraditório com o que queríamos retratar. Na cabeça dela, se é possível levar vantagem, por que não?
É como o jornalista que quer assistir uma peça de teatro, filme ou show e liga para o assessor de imprensa solicitando o ingresso. A famosa "carteirada", sabe?
Quer? Pague. Não pode haver outra forma... a não ser para aqueles que acreditam que ética é um conceito abstrato, sem relação alguma com as miudezas do dia a dia.
Aí, bom, aí a decepção nem vale uma bronca...

sábado, 19 de setembro de 2009

A escolha é de quem?

Enfoques diferentes sobre os assuntos são sempre bem-vindos. Quando se trata de publicações semanais então, que têm como um dos principais objetivos aprofundar os fatos mais relevantes, são imprescindíveis.
A questão é quando o enfoque subverte o conteúdo informativo. É justamente com essa sensação que fiquei ao ler as reportagens sobre a indicação do Advogado Geral da União, José Antônio Toffoli, para o Supremo Tribunal Federal.
A "IstoÉ" trata o assunto apenas com uma nota. A "Época" direciona a reportagem para o fato do advogado ser a oitava indicação de Lula para a mais alta corte do país, as afinidades políticas com o PT e destaca algumas vitórias de Toffoli à frente da Advocacia-Geral da União.
Já a "Veja" não fala nada sobre a atuação dele no governo, pelo menos não no governo federal. A revista relata dois processos decorrentes de contratos celebrados com o governo do Amapá, entre 2000 e 2002.
Todas as informações publicadas são importantes para que o leitor possa formar uma opinião sobre o assunto. Mas, detalhe: ele só consegue isso se ler mais de uma publicação.
Em nome do enfoque, o leitor acabou sendo privado. Os veículos têm o direito de elencar aquilo que consideram mais relevante, mas que fica um ranço de trabalho mal feito, isso fica. Sem falar na falta de respeito com quem pagou R$ 8,90 por cada revista...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O resto é festa...

Dois técnicos, dois campos distintos...os dois foram criticados, os dois ameaçados de demissão, os dois superaram a crise.
Futebol e economia. Radinho de pilha no ouvido, bandeira na mão e uns trocados no bolso para a cerveja e o churrasco. O resto é festa, como diz um amigo.
Simplista? É sim, mas é a vida real de boa parte dos brasileiros. É como um termômetro.
Me pergunto se nesse último ano conseguimos captar a temperatura desses dois campos. Dunga foi criticado por não mexer na seleção...Henrique Meirelles por ser lento nas mudanças no Banco Central.
Até aí, tudo bem, a crítica faz parte do jogo. Mas será que não exageramos? Será que não demos mais atenção aos sinais negativos? Será que não valorizamos a velha máxima de que boa notícia é notícia ruim?
Eu acho que sim...essa semana, uma frase do Henrique Meirelles, presidente do Banco Central , no Especial Pós-crise, da revista Veja, chamou a atenção: "Penso que as críticas derivam do mau entendimento do que ocorreu e de um equívoco de avaliação. Isso me deixa um pouco entristecido. É como se o país tivesse entrado e saído da crise por obra de uma magia, sem que nada tivesse sido feito para atenuar os efeitos do choque externo".
Pois é, não me parece que Meirelles ataque para se defender. Assim como não é o estilo de jogo de Dunga. Questionado se as falhas argentinas não influenciaram a vitória brasileira, soltou a bomba: "No Brasil, em nenhum momento a gente tem mérito. Quando a gente ganha, é a Argentina que falhou. A gente treinou a bola parada durante a semana, mas a pergunta é esta. A gente nunca tem mérito. É difícil, é complicado."
Nós jornalistas podemos, comodamente, tirar o time de campo e desprezar as críticas, ou repensar nossa tática de jogo e entender que somente sorte não garante placar. Mérito é notícia boa...e boa notícia!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Lições

Dias difíceis os que passaram...peço desculpas pela ausência! Vamos lá...
Em uma conversa com alguns alunos, um deles pediu que eu comentasse algo sobre o caso do italiano preso acusado de praticar crime sexual contra a filha de oito anos. Eles consideravam que a imprensa estava transformando o caso em outra "Escola Base". Para quem não se lembra, em 94, vários órgãos de imprensa publicaram denúncias contra os donos e quatro funcionários de uma escola, que estariam envolvidos no abuso sexual de crianças. A vida dos acusados foi virada de cabeça pra baixo, perderam tudo...no final, todos foram inocentados.
Bom, voltemos ao nosso assunto. Não vejo, no caso atual, que nós jornalistas tenhamos feito juízo de valor sobre os fatos. E isso me parece um bom sinal. Até porque, em coberturas desse tipo, logo se formam opiniões contrárias ou favoráveis, e não só entre os jornalistas. Por exemplo, no blog "Balaio do Kotscho" mais de 500 comentários foram postados sobre o tema. Muita gente dizendo que é uma questão de cultura, muita gente rotulando o italiano de pedófilo.
Manter o equilíbrio não é das tarefas mais simples. Crimes cometidos contra crianças geram, por si só, revolta. Nós somos impactados sim.
Por outro lado, a investigação corre sobre segredo de justiça, o que nos "obriga" a trabalhar com informações em off. Outro risco é basearmos a construção de nossas reportagens apenas no relato de pessoas que estiveram no local, sem levar em consideração os exageros ou tão pouco os preconceitos.
Não há receita para uma cobertura correta, mas há lições que podemos aprender. Atenção, sempre, é a melhor medida.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Burocracia

Histórias perdidas...porque perdida foi boa parte da vida. Abandonadas pelas famílias, esquecidas pela sociedade, enclausuradas pela justiça.
São crianças, apenas crianças. Caminhos parecidos e quase sempre o mesmo fim. Os abrigos tem centenas de histórias de meninos e meninas por serem contadas.
Não podemos contá-las. Perdidas vão permanecer as histórias. Vidas perdidas na burocracia.
Sob a tutela do estado, o Estatuto da Criança e do Adolescente é usado, muitas vezes, como uma barreira entre nós jornalistas e as crianças.
Protegê-las sempre, mas é fundamental ter em mente que falar dos assuntos relacionados a elas é antes de mais nada não esquecê-las. Já passaram por isso, lembram?
Há três semanas tentamos autorização para gravarmos entrevistas com alguns jovens abrigados, os mesmos que já retratamos em uma série de reportagens especiais no ano passado.
A resposta da promotoria? Há outros processos mais importantes...
Nosso pedido provavelmente será esquecido no fundo de uma gaveta, em algum cantinho...perdido!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Uma questão de foco

- Tik, tik...sim
- Are baba...ah, não, retrucou o outro.

Entre uma frase e outra soltavam uma dessas expressões indianas, que o sucesso da novela trouxe para o nosso cotidiano. Simples assim...até onde é simples entender dois sujeitos de sotaque nordestino arrastado conversando. Na linguagem deles tudo ia bem...a separá-los o balcão da padaria. Garçom e cliente riam das próprias palhaçadas com o novo vocabulário.

No caminho para o trabalho fiquei pensando na cena. Haveria uma história alí?? Sem dúvida. Algo capaz de ganhar o status de notícia? Difícil...pelo menos neste pequeno recorte da realidade.

Dá para ampliar a questão? A revista Exame tem um bom exemplo. Os dalits - pessoas consideradas impuras, intocáveis - foram retratadas nas páginas da última edição. A reportagem mostra o que algumas empresas indianas estão fazendo para incluí-los no mercado de trabalho.
De certo, a problemática é muito anterior à trama Global, mas é tão certo quanto o assunto hoje estar no imaginário das pessoas, ou seja, desperta interesse imediatamente.

O que quero dizer é que todo e qualquer assunto pode, sim, ser abordado por este ou aquele veículo. Tudo é uma questão de foco, para quem nós jornalistas estamos falando, afinal, nosso olhar é sempre o recorte da realidade.

Namastê, diriam os indianos...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Quando o básico vira qualidade

Por entre as frestas da persiana vislumbro um pequeno movimento na redação. Não tenho a visão completa, apenas um canto dela. O restante está separado da sala por uma tapadeira de acrílico, o que deixa o fundo sombreado. Vejo vultos. O murmurinho indica que há outras seis ou sete pessoas.
Na sala, no canto oposto ao do computador, seis monitores estão ligados, mas sem som. Dois vasos, um grande e outro pequeno, tiram um pouco o ar cinza das paredes e do chão. Pequena, mas não apertada. Até bem pouco tempo a disposição dos móveis era outra, melhor agora...
Essa breve descrição é sobre minha sala, onde estou neste momento. Antes de abrir o blog estava lendo a revista Exame e me deparei com algo que...bom, que achei que poderíamos refletir juntos.
A sessão Carta ao Leitor fala do novo correspondente da publicação em Nova Iorque. Logo no comecinho o texto explica que a decisão é a materialização de algumas crenças da revista e vale a pena transcrever pelo menos uma delas: "Acreditamos em estar perto dos fatos. Acreditamos que o contato com a realidade é uma das diferenças entre o bom e o mau jornalismo".
Pois é...lembra da descrição que fiz da sala? Não seria possível se eu não tivesse vivenciado o ambiente, se eu não o conhecesse. Estar perto do que se quer retratar é princípio do jornalismo. Dizer que acredita nisso é como levantar a suspeita de que há outra possibilidade. Não, não há...e não estou falando entre bom ou mau jornalismo, mas sim entre fazer jornalismo ou não.
Curioso como algo tão básico é vendido como um diferencial. Imagine uma propaganda de carro, por exemplo, anunciando que o veículo tem quatro rodas. Fantástico!!!
Jornalista que apura, que vai pra rua, que ouve pessoas, que se emociona, que se desespera, enfim, parece coisa rara. É como o político que alardeia as próprias qualidades, entre elas, ser honesto...não dá para acreditar!!!

sábado, 5 de setembro de 2009

Versões

Fogo, pedras, barricadas e muita, muita confusão. Microfones a postos e surge a versão oficial:

- A manifestação foi provocada pelos traficantes.

Assim sendo, ficamos todos mais tranquilos...nada saiu do lugar. Coronel falou, tá falado, certo? É fonte oficial, meu caro...

Durante a cobertura de um dos protestos chegamos a discutir o assunto na redação. O repórter queria valorizar a versão dos moradores, que insistiam que a manifestação havia sido provocada pela truculência da polícia.
Nós ponderamos que, apesar disso, era muito difícil eles se organizarem sozinhos. Optamos pelo caminho mais lógico talvez, sem dúvida mais fácil e nos deixamos seduzir pela versão da PM.
Aliás, a mesma versão para cinco das dez manifestações violentas ocorridas este ano em São Paulo e repercutida por todos os grandes veículos.
Bobagem, e das grandes. Quer saber? Em nenhum dos casos a polícia conseguiu provar o elo com o crime organizado. Em nenhum!
Nossa versão? Não fizemos direito nosso trabalho, nem na ocasião e nem agora, afinal, não demos a devida repercussão ao fato da polícia não ter conseguido provar o que disse.

Não é matemática

Sábado pela manhã, parado em frente a banca, sorriso entremeado nos lábios. No olhar, a dúvida...qual jornal comprar?
O assunto da capa era o mesmo, a crise econômica mundial. Acontece que um deles destacava uma ideia mais pessimista sobre o momento - Crise ainda não terminou, dizem EUA e emergentes - e o outro mais otimista - G-20 já discute pós-crise e fim dos pacotes de estímulo.
Enfoque diferente é regra, não exceção. E é aí que está justamente o sabor do jornalismo. Não há erro em nenhum dos casos, mas tão somente a informação foi trabalhada a partir de um ou outro prisma. Leituras diferentes de uma mesma realidade...e que assim seja sempre!
Três minutos passados, o rapaz em frente à banca toma a decisão...vai levar os dois, afinal, o conhecimento tem um preço, como diz um dos jornais, e sempre haverá uma mosca para te atormentar, diz o outro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Mais realista que o rei

Toca fogo, toca fogo...grita o morador.
Morador??? Sim. Revoltados com a morte de uma estudante de 17 anos, vítima de uma bala perdida, protestaram. Interditaram ruas de acesso à favela, queimaram veículos.
Moradores??? Sim. Dezenas deles...pais de família, trabalhadores, jovens e, claro, alguns vândalos.
Vândalos??? Sim. E mais, criminosos. Treze veículos incendiados...de outros tantos pais de família, de outros tantos trabalhadores, de outros tantos moradores...
Adjetivar o texto jornalístico é sempre muito complicado. Nas salas de aula ou nas redações país afora existe aquela regrinha básica de que não devemos atribuir juízo de valor. Relatamos os fatos, a conclusão cabe ao telespectador.
Isenção é sem dúvida nossa ferramenta básica. Mas, me perdoem os puristas, não nomear corretamente aquilo que se vê é fugir da responsabilidade, e no mínimo, ser mais realista que o rei.