domingo, 2 de outubro de 2011

Vida...

De soslaio me olha
Me olha de frente
Me olha de costas e pelas costas
Interrogativamente, pensativa
Me olha
Brava as vezes me olha
Carinhosamente quase sempre
Me olha com cuidado
Sinto que me olha com desejo
Me olha a procura de mim
Me olha inteiro e em partes
Longe me olha
Em meio a todos me olha com aprovação 
Se reprova, me olha em particular
Me olha em busca do meu olhar
Me olha, sei
Apaixonadamente olho o teu olhar

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Perdeu Playboy!!!

A sinceridade assusta por vezes, mas é sempre reveladora. E quando ela se desnuda na frente de uma câmera de televisão, aí então...sobram explicações no dia seguinte.
Aquele que falou demais normalmente argumenta que foi mal interpretado, que não era bem aquilo que queria dizer, que o jornalista não foi fiel ao relato, enfim, dizer que não disse o que disse com todas as letras é também revelador.
Nesta segunda-feira, ao comentar o resultado pífio das escolas públicas no Enem, a sub-secretária de Educação do Espírito Santo, Adriana Sperandio, falou que não há a pretensão de equiparar o ensino público ao privado, afinal são realidades sócio-econômicas distintas.
Ué, então com a conivência do estado aquele aluno que não tem condições de pagar um colégio particular nunca terá a mesma chance em uma sociedade que nos ensina desde criança a competir?
Perdeu playboy!!!

domingo, 11 de setembro de 2011

Simples assim...

O jeito de falar é simples, nem por isso menos conhecedor do seu mundo. Estudou ate a quarta série do ensino fundamental, e as lições do ofício descobriu na vida, um dia de cada vez.
Pergunto se aquele é mesmo o seu nome...
- Moço, os amigos dizem que tenho coração bom e aí me deram esse apelido.
Jesus é pescador há 30 anos. Assim criou três filhos. O mais velho poderia ter ido trabalhar em uma das plataformas da Petrobras, ali pertinho, mas preferiu seguir os caminhos do pai.
- Meu menino é pescador bom, pesca até no fundo do mar...e no peito, não precisa daqueles equipamentos, sabe?!
Construiu um barco para o garoto e a vida seguiu seu rumo. Com o mar aprendeu que há dias de tormenta e dias de calmaria. É só observar e aprender...simples assim!!!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mudamos...

Mais otimista?
Não.
Pessimista?
Tão pouco.
Curioso perceber que o conhecimento adquirido não nos deixa mais crente ou descrente em relação a esse ou aquele assunto. Se assim fosse, estaríamos fadados a passividade.
Ao aprender ganhamos sim ferramentas para construir um novo caminho. Tornamo-nos mais capazes de avaliar, inclusive, nossas crenças, de percebermos maneiras diferentes na busca de soluções diversas para concepções já cristalizadas, enfim, mudamos...
E agimos!!!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ao Sérgio Utsch, com carinho

Abro uma garrafa de vinho, sirvo uma taça e uma saudade gostosa se aconchega. Ao amigo que parte para um novo desafio, meu até breve. Aos que ficam como eu com um gosto de orgulho na boca proponho um brinde.
Sim, esse amigo querido e colega de trabalho é daqueles que nos fazem amar ser jornalista.
Contador de histórias, umas melhores, outras piores, mas sempre boas histórias. Não relatos frios ou relatórios adjetivados, não. Substantivo é sua essência...as vezes comum, as vezes próprio, tantas vezes concreto e outras tantas abstrato.
Jornalista que se apaixona pela sua matéria prima, que vive o conflito constante entre razão e emoção, que extravasa, que transborda, que coleciona amigos e desafetos, que valoriza o diálogo e que provoca sempre o interlocutor.
Não há passividade nesse sujeito, e apesar dos erros que se possa cometer ao assumir tal postura é assim que se forjam os talentos.
Valeu meu irmão!!!!

Perdi a fome

Lendo o jornal durante o vôo de volta para casa três notícias me chamaram a atenção, a começar pela manchete de capa: “Moçambique oferece ao Brasil área de 3 Sergipes”.
O governo do país africano acredita que nós temos tecnologia e conhecimento para transformar a área em um campo de produção de alimentos, nos moldes do que foi feito na região do cerrado. Terra fértil para o agronegócio que vai encontrar na África leis ambientais mais flexíveis, como gostam de apregoar os empreendedores rurais...eu, na minha ignorância, prefiro dizer mais perniciosas. Enfim, quando se fala em alimentação, ou melhor, na falta dela, o continente africano há muito estampa as páginas dos jornais mundiais.
Nesse domingo, o enviado especial a Mogadício, na Somália, fez um retrato brilhante sobre a situação do país. De acordo com o Programa Mundial de Alimentação, nos últimos dois meses, 200 mil somalis chegaram a capital fugindo da seca. Outros tantos morreram pelo caminho. A reportagem “Fracos demais para chorar” nos deixa com um soluço engasgado.
E a situação fica pior quando nos deparamos com o texto de Antonio Gois, “Muvuca Planetária”. Ele nos lembra que em outubro seremos 7 bilhões de habitantes. É muita boca pra alimentar, não??
Eu sei, eu sei...os otimistas acreditam que a tecnologia garantirá o futuro do planeta, mas pergunto: Por que ainda permitimos que um pai veja o filho morrer em seu colo de inanição???
Ouço ao longe a voz suave da aeromoça:
- O senhor quer um sanduíche???

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dia de fazer compras

Faltou cerveja? Quem sabe um salgadinho para aquela reunião de última hora. Ou um produto de limpeza emergencial. Abastecer a geladeira para a semana...nada disso é possível num domingo em terras capixabas.
Para quem sempre teve tudo isso a mão, parece estranho. Verdade que a gente acostuma, acredite.
Difícil mesmo é entender toda a discussão ao redor do tema. Até onde eu sei os supermercados já funcionaram aos domingos por aqui, mas os trabalhadores fizeram tanta pressão que as redes fecharam as portas.
Agora, há um projeto de lei propondo o revezamento entre as lojas.
Tá bom para você?
Para os empresários do setor não. Acham que a proposta é inviável, afinal se um feriado cair em um domingo, por exemplo, a loja aberta faturaria mais, e isso causaria um desequilíbrio entre as empresas...
Ué, esse não é um princípio do livro mercado???

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A força do exemplo

Um prefeito e um vice-prefeito têm os direitos políticos cassados por abuso de poder econômico e político. Mais comum que gostaríamos , certo?
Três anos depois são reconduzidos ao poder, agora como secretários de agricultura e planejamento.
E sabe por quê? O atual prefeito acredita que a cassação foi “sem sentido”.
Em defesa própria os novos secretários argumentam que poucas pessoas no município estão preparadas para assumir esse tipo de cargo.
Agora sim...isso faz sentido!!!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Mundinho confuso...

Ainda com sono, com os olhos praticamente fechados ligo o computador para ler os jornais do dia...o mercado financeiro desabando, o discurso vazio do presidente norte-americano, a perplexidade dos líderes europeus reféns das especulações, as projeções dos analistas sobre os riscos da crise no Brasil e a nossa presidente aconselhando a população a consumir...sim, funcionou na era Lula, quando o mercado interno conseguiu manter o giro da economia, lembra?
Pois então, tudo isso me parece fora do eixo, sei lá...ainda mais quando penso em uma das palavras mais ditas em tempos atuais: sustentabilidade.
Ahhh tá!!! Quero voltar a dormir!!!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Quanto mais longe melhor!!

Algo não ia bem, isso já dava para perceber no dia a dia. De uns tempos pra cá nem toda posição era satisfatória...ajeita daqui, ajeita dali, deitado nem pensar. Antes, mesmo na penumbra dava-se um jeito. Agora só com luz, isso se não quiser forçar.
Procurei ajuda e escutei o que não queria.
- Cansada.
- Quem? 
- A vista, amigo...a sua vista está cansada, sentenciou o especialista.
Jeito bacana de dizer que você está envelhecendo. E não é drama não. Segundo ele depois dos 40 é assim mesmo, sinais do tempo.
Agora entre eu e uma boa leitura haverá um novo companheiro: os óculos.
Isso se eu não quiser ficar com os braços doendo de tanto afastar o livro...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pequeno poder

Sabe com quem está falando?
Eita perguntinha chata, daquelas de tirar qualquer um do sério mesmo.
E acontece comigo, e como...
Ainda que seja uma pergunta ela não pretende uma resposta, pelo contrário, impõe o silêncio, castra o dialogo.
Quase sempre vem embrulhada em ironia, sem falar no grau de petulância que nem sequer cabe no sujeito. E só para seguir na mesma linha da arrogância, quase sempre também quem pergunta não é ninguém.
Arrisco dizer até que ela demonstra o grau de civilidade do interlocutor.
Sim, por trás da singela frase há uma ideia de poder  ultrapassada, aquela que não admite contestação, que valoriza o monólogo...
Apenas a título de reflexão, um dos filósofos que conceituou o poder, Michael Foucault, falava que o poder é exercido em rede, não há um entidade centralizadora.
Na era da informação parece que nem mesmo os "comunicólogos", principalmente alguns assessores de imprensa travestidos de jornalistas, entendem.
Para sua pergunta só nos cabe a resposta: não amigo(a), não sei.
Ah!! E nem me importa...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Voltei...

De longe te olho...já faz algum tempo que não trocamos palavras, carinhos, resmungos.
O teu silêncio me angustia. Ah! E o pior é saber que você sabe. Isso sim é um tormento. A sua quietude tem menos de ignorar e mais de provocar.
Palavras não ditas me parecem ameaçadoras. Impelem-me a ação, não ao repouso.
Penso, procuro algo para te dizer...
Parece pálida, mas sou eu que me sinto sem vida, ainda que a vida vá bem, obrigado.
Peço desculpas àqueles que torceram pelo nosso relacionamento...chegamos a essa situação por desleixo tão somente meu.
Cá estou... Quero de novo ser provocado pelo silêncio branco da tua cara, e ainda que não goste do que digo, respeita, e sutilmente me faz refletir amanhã sobre o que disse hoje.
Quero as histórias escritas todos os dias. É isso que me acalma!!!

sábado, 9 de abril de 2011

Histórias de nós

- Já fiz muita coisa errada na vida...
Entre um trago e outro no cigarro, intercalado por breves momentos de silêncio, como dando tempo para a voz da lembrança aparecer, aquele rapaz ao meu lado foi falando dos descaminhos por que passou.
- Esse negócio de que crack é doença...é safadeza, isso sim.
Ele conta que usou a droga por dois anos, mas um dia decidiu parar, de consumir pelo menos.
- Alexandre, eu ia buscar a pedra na boca e via os caras com carro novo, roupas...Aí pensei: esse negócio tá me dando prejuízo. Eu vou é vender.
Entrou para o tráfico e entre uma correria e outra repassava armas vindas do Rio de Janeiro para os morros capixabas.
- Um dia um colega me chamou pra “matá um cara aí”. Tirei o revólver da cintura e falei: Não tem bala meu véio! Aí rodamos a noite inteira procurando munição...até pro cara que estava marcado pra morrer nós pedidos. Deu sorte o camarada.
E ele também. Próximo de completar 24 anos lembra que quase todos os conhecidos daquela época morreram ou estão presos.
Hoje trabalha 15, 16 horas por dia. Faz o que tiver pra fazer, menos “coisa errada” como ele diz.
Puxei o maço de cigarro, ofereci um pra ele. Nossas histórias se cruzam todos os dias, mas nunca havia parado para ouvir como ele chegou até ali...

domingo, 13 de março de 2011

Ela nos espreita, sempre...

Consentimos, por vezes. Procuramos por ela até. Deitamos e nos deleitamos. Dividimos o espaço da cama, num ritmo harmonioso. Fantasiamos...ah, como fantasiamos. De olhos abertos ou fechados nos deixamos levar. Não há começo ou fim estanques, concretos. Há meio, e ainda assim, melhor dizermos no plural, meios...fluidos, abstratos.
Nos enredamos num jogo de olhares, de palavras, de sentidos. Sentimo-nos catapultados por ela. Explodimos em gozo na palavra gritada, arremessada na nossa cara ou no sussurro arrastado, lento, até que as letras se encaixem numa ideia inteligível. E gozamos de novo e de novo e de novo...o gozo da dúvida que se aconchega e nos faz querer mais, questionar mais, num ciclo frenético e construtivo.
Ciclo que se rompe quando ela chega sem ser convidada. E ela chega...nos empurra paro o canto da cama. Não há harmonia em nosso ritmo. Sufoca, nos torna refém.
Começo e fim têm a última palavra, e o meio já não nos inspira. Nada mais há do gozo proporcionado pela dúvida que nos impele a novas descobertas.
Nada!!!
A dúvida é agora angústia e me rouba o sono. Ela nos espreita, sempre...

domingo, 6 de março de 2011

Sorrisos que entristecem

Aqueles com ar de obrigação, aqueles que pretendem preencher um vazio, aqueles sem graça porque graça não os motivaram. Gosto ainda menos daqueles para cumprir tabela, sabe? O dono não entendeu o que você falou, mas sorriu...
Prefiro os debochados aos calculistas. Os tímidos de fato aos simpáticos de plantão. Os irônicos aos dissimulados.
O sorriso de raiva contida, de medo, de angústia. O sorriso que esconde quem te olha. O sorriso de quem se compraz em artimanhas.
O sorriso de subserviência...esse, talvez, o pior deles!!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Mais um dia...

- Posso entrar?
A voz tímida, quase sem graça, constrangido mesmo. Ao sentar a minha frente se colocou cabisbaixo...
- Se algo acontecer comigo foi o meu filho.
Não entendi da primeira vez. Já tinha trocado algumas palavras com aquele homem, nada sobre família.
Minha expressão deve ter mostrado que a frase não surtiu o efeito esperado e ele logo completou.
- Meu filho está me ameaçando...disse que vai me matar.
Tomei um susto. Primeiro, não queria aquela responsabilidade. Imaginei chegar no dia seguinte para trabalhar e receber a notícia que aquele homem havia sido assassinado.
Segundo, o que eu podia fazer? Levá-lo a polícia?
Ele tinha medo. O filho poderia descobrir e as coisas ficariam ainda pior.
Ouvi o desabafo. Contou que o filho está envolvido com o tráfico de drogas e que outro dia chegou em casa todo sujo de sangue...
- Perguntei o que tinha acontecido e ele foi curto e grosso: matei um sujeito, o próximo vai ser você!!
Insisti que deveríamos ir a policia, mas não o convenci, ainda.
Hoje ele me deu bom dia...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dor e covardia

Dessa vez era diferente, isso ela sabia.
Tinha visto tantos carimbos que acabou memorizando o formato das
letras e a ordem delas...ler não sabia, mas tinha certeza que era
diferente de todos os outros vistos até ali.
Esperou horas para ser atendida e agora tentava entender o que o
advogado dizia.
Entre uma frase e outra, para ela meio sem sentido, percebeu que os
quase três anos de espera tinham chegado ao fim.
Para chorar não tinha forças. Por inúmeras vezes caiu em prantos,
sozinha na maior parte dos momentos. Outras tantas, sem se importar
com quem do lado estivesse, bastava que algo lembrasse o filho.
O tempo não havia cicatrizado a ferida da perda, e ela tinha certeza,
a dor jamais passaria, nunca.
Quando o filho foi assassinado ainda não havia completado 15 anos. Mas
desde os 12 estava no movimento, na pista, como ele gostava de dizer.
E subiu rápido. De fogueteiro passou a soldado...aí a guerra se
encarregou do destino. A cada amigo que tombava no confronto com
outro traficantes ou com a polícia, ele subia na hierarquia, e assim,
de morto em morto, assumiu o comando da boca.
Naquele dia contava para os mais novos como tinha chegado até ali.
Moço já sabia que naquele negócio não dá para dar bobeira.
E o inimigo também sabia.
- Perdeu...é nossa - gritava um dos traficantes do morro vizinho.
A invasão foi rápida, alguém deu a fita toda, para ele estava na cara.
Não teve tempo para descobrir. Foi encontrado morto com sete tiros pelo
corpo.
Quem matou tudo mundo sabe, mas ninguém sabe.
O baiano, o pezão, o mosca...no crime apelido apaga o nome do sujeito.
A história dos meninos é curta ainda que muitos de nós acreditemos que
garotos assim já nasceram bandidos.
As investigações nunca deram em nada. Ainda que o baiano, o pezão e
o mosca fossem suspeitos, quantos deles há por aí?
E pior, a investigação já se arrastava por tanto tempo, que mesmo
que a polícia chegasse aos nomes corretos, era bem possível que
estivessem mortos.
A sobrevida de traficantes gira entre 3 e 4 anos.
Daí porque boa parte dos processos abertos nas varas de justiça espalhadas pelo país, abertos vão permanecer. Não há solução...nunca.
Seja pelos motivos já citados, seja pela ineficiência e pela morosidade dos órgãos públicos, o fato é que o Estado é covarde!!
Sim, não tem coragem de assumir para milhares de famílias
que esperam notícias que os casos são insolúveis e, portanto deveriam
ser arquivados.
Enquanto o Estado não resolver enfrentar os próprios cadáveres,
famílias vão continuar esperando, esperando, esperando...
Quando aquela mãe viu o carimbo e recebeu a notícia que o caso da morte do filho não seria resolvido um ciclo se fechou.
A dor não diminuiu, a raiva aumentou.
Melhor a certeza de que as respostas não virão, ou, melhor a dúvida de que um dia as perguntas sejam respondidas, ainda que as autoridades, essas sim, tenham a certeza que são incapazes de dar as respostas desejadas?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Tolerância ou omissão??

As marcas vão continuar pela vida afora. Isso se ele sobreviver as facadas na cabeça, costas e barriga.
O músico que tentou proteger a própria escola da ação de pichadores, na madrugada de terça-feira, é mais uma vítima da intolerância destes e da tolerância nossa.
Navegue por alguns poucos minutos na internet e você vai encontrar uma centena de páginas com apologia a pichação. Há até análises sobre as “expressões gráficas urbanas”.
Quer coisa mais politicamente correta?
Vamos lá...três rapazes foram presos nesta quarta-feira, no Rio, por apologia ao nazismo. O suspeito de ser o líder do grupo tem uma suástica tatuada na coxa. Ahh, garoto!
Alguém dúvida que se perguntado, o pai diria que o filho é um amor de pessoa, incapaz de fazer mal?
Ainda que como cordeiro se comportasse dentro de casa, afinal os covardes são mestres em escamotear os próprios sentimentos, a pele era de onça pintada com o símbolo da intolerância.
E sem me alongar mais, termino com a entrevista de um psicólogo sobre o adolescente aprendido pela décima sexta vez depois de roubar um carro.
Dizia ele que é preciso valorizarmos o talento do menino e não o rotularmos de bandido, ou seja, com a aptidão que o garoto tem para abrir um carro com uma chave mestra e ser capaz de fazer uma ligação direta, dada as condições, ele poderia ser um grande mecânico...
Talvez, mas tolerância tem limite...doutor!!!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Temos jeito??

A discussão entre os dois homens durava uns 10 minutos. Uma bobagem, dessas que qualquer um de nós já se envolveu, que nem vale comentar.
Sem motivo a mais um deles puxa uma arma. De longe parecia um 38...o som dos dois tiros encobre a gritaria.
O homem cai, morto.
Ninguém ficou para conferir a confusão, só de longe, numa distância minimamente segura.
Casos assim acontecem todos os dias nas grandes cidades e não seria exagero dizer que, na maioria, o assassino não é preso.
Mas vamos supor que no nosso caso a polícia tenha conseguido prender alguém, claro, fora do flagrante porque aí também seria muita ficção. Enfim, suspeito preso, inquérito aberto, denúncia oferecida pelo Ministério Público, réu no tribunal.
- O senhor matou? – pergunta o juiz.
Para além dos subterfúgios que os advogados usariam na elaboração da resposta, o fato é que o que o réu tem para dizer não importa.
Ele pode mentir. Na verdade, todos nós podemos porque a lei garante que não precisamos gerar prova contra nós mesmos.
Coisa de primeiro mundo, não é? E depois nós jornalistas é que somos acusados de valorizar a versão em detrimento de fatos...
Mas voltemos ao caso. Uma das pessoas que estava na rua é arrolada como testemunha, quer ela queira, quer não.
Se no dia da audiência a pessoa não aparecer, o juiz pode mandar buscá-la e ainda aplicar uma multa.
Calma, não é tudo. Se ela prestar falso testemunho, ou seja, mentir, pode ser condenada a até três anos de prisão.
Enquanto isso o réu assiste calado, afinal ele é a única pessoa que não precisa dizer nada, nem mesmo a verdade.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sei lá...

- Ela não tá feliz!!
A atendente não entendeu nada...
Eu me referia a uma planta que está na varanda de casa. Não sei explicar o que ela tem, sei apenas que ela não está feliz. As folhas perderam a vivacidade, o brilho, sabe?!
Parece coisa de maluco, mas alguma coisa a incomoda.
Conheço poucas plantas pelo nome e essa não era uma delas. Levei então uma das muitas folhas caídas no chão até a casa de jardinagem.
- Ah, é a Peperomia. Ela está no sol? – perguntou, na tentativa de fazer um diagnóstico.
- Não, respondi.
- Você rega de quanto em quanto tempo? Se colocar muita água, ela morre afogada...se não regar direito, morre de sede.
Ajudou pouco a observação dela.
Talvez ela precise de espaço, pensei. Sim, quem é que não precisa?
Troquei o xaxim por um vaso de fibra de coco, maior, mais aconchegante.
Quem sabe amanhã a Peperômia diga que queria apenas crescer...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um bando de loucos

Quando dito de forma poética, fruto da paixão cega, desmedida, incomensurável, ainda que o fanatismos, de qualquer espécie, não seja positivo, vá lá.
Mas o que dizer quando esse mesmo bando de loucos difere ataques àqueles que personificam a sua paixão?
As cenas dos torcedores cercando o ônibus do Corinthians na chegada ao centro de treinamento vai além do que a paixão pode explicar, mesmo que o senso comum profetize que paixão e razão são campos distintos.
Não, a dor de uma perda não justifica a brutalidade. Perde-se duas vezes...
Como diria Nelson Rodrigues: “Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado”.
Paciência. Tire o time de campo, toque a bola de lado...amanhã tem mais futebol!

Numa tarde de sábado

Fechei os olhos...o tato era o sentido que deveria aflorar. Deixei o pensamento vagar para longe dos barulhos, ainda que suaves. Queria o silêncio e a sensação do toque, nada mais.
Os dedos faziam pequenos movimentos num brincar de ritmos, hora rápidos, hora lentos, hora pressionando, hora acariciando com suavidade, do alto a base.
Sentia apenas, tão passivamente que beirava o egoísmo.
Abri os olhos e espiei pelo espelho. Lá estava ela, olhos voltados para um único ponto, e por conta disso impossível cruzarmos os olhares. A boca estava entreaberta e percebi, ou imaginei, um leve sorriso, daqueles de satisfação quando temos a certeza das nossas habilidades e dos prazeres que elas proporcionam.
Voltei a apenas sentir e ali teria ficado por horas...com a palma das mãos ela enxugava os respingos, com todo o cuidado, diga-se de passagem.
- Prontinho. O barbeiro já vai te atender. Se quiser lavar o cabelo novamente depois é só falar!!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Prato feito

Liguei a televisão e lá estava o repórter mostrando o aumento de alguns produtos no supermercado...de um lado, um economista quantificava os aumentos, de outro, uma nutricionista dava sugestões para substituirmos os alimentos por outros mais baratos. Claro, sem perder o valor nutricional...
O prazer de saborear este ou aquele prato, pouco importa. Afinal comemos apenas para suprir o organismo dos nutrientes necessários, certo?
Você, assim como eu, já deve ter visto centenas de vezes reportagens com essa abordagem. Carne por frango, alface por couve, laranja por limão, enfim.
Sempre me pergunto: será que precisamos ensinar a dona de casa a fazer compras?; Será que tem algum sentido dizer para ela trocar isso por aquilo?
Coisa mais sem graça, sem sal, sem tempero...com cara de comida requentada.
Ah! E quando termina a reportagem o apresentador ainda diz: “Comer pouco também economiza...”
Não comer nada economiza mais ainda, amigo!!!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um telefonema

- Estou perdida...não sei o que fazer.
Palavras entrecortadas por um choro abafado. Desespero escancaro, escondido em pequenos momentos de silêncio.
Dia a dia de idas e vindas de hospitais. A febre não baixa. A última crise provocou uma parada respiratória.
O motivo os médicos não sabem, não descobriram ainda...e ainda, em casos assim, é muito tempo, tempo que não se tem.
A essa hora ela está em uma ambulância transferindo a filha de uma cidade para outra.
A agonia de uma mãe, colega de trabalho, ecoa ao telefone...espero notícias...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Preconceito ou falta de informação

Leio nos jornais de hoje que 87% das mais de 5.500 bolsas de estudo não preenchidas do Prouni são de cursos de educação a distância.
Explica o jornalista que isso se deve ao preconceito.
Pergunto: de quem?
É fato que há sim desconfiança em relação a educação a distância, mas só isso não é suficiente para entender a equação.
Será que não é plausível refletirmos se os alunos têm acesso a rede? Pode parecer estranho, mas a grande maioria da população brasileira não tem computador em casa, o que dirá, banda larga...
Afora esse pequeno detalhe, também acho que falta um pouco de divulgação, ou melhor, de experiência de marca.
Aí vai uma sugestão: que tal as universidades permitirem que os candidatos tenham acesso e se familiarizem com o sistema, antes de tomarem a decisão.
Um país que necessita urgentemente de investimentos na área educacional não pode se dar ao luxo de ter preconceito com novas plataformas.
O risco é a educação ficar ainda mais distante de todos nós...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Hoje não teve cerveja

Não enchemos o copo, não brindamos. Não demos risadas, não falamos alto, não nos sentamos ao redor da mesa na varanda, não degustamos petisco algum, não fizemos um sanduiche, não cantamos nem certo nem errado.
Não falamos das histórias passadas, de tantas histórias vividas e revividas em outros tantos momentos. Não!
Sentimos apenas o gosto do quero mais. Amigos são assim, feitos do dia-a-dia, dos dias transformados em semanas, das semanas em meses, dos meses em anos, dos anos em décadas.
Hoje o copo transbordou de saudade. Nos vemos em breve, em uma varanda qualquer daqui ou daí...ah! E com o copo cheio de histórias...quem sabe levo o vizinho. Hoje as luzes apagaram mais cedo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Na beira...

Os pés procuram o frescor da areia umida, se aconchegam em solo não tão firme. Quando a maré sobe afundam sob o peso do corpo. Desaparecem...
As idas e vindas da marola provocam um desequilíbrio, nada suficiente para uma queda, apenas um leve balançar.
Viro o tronco e olho para trás. A agitação aparente, vozes dispersas, os carros passando ao fundo.
Ajeito o corpo...não procuro respostas, mas há um turbilhão de perguntas a minha frente.
Um pouco de força e consigo desprender os pés do buraco que se meteram, ou melhor, do buraco que moldaram.
A maré sobe novamente e minhas pegadas já não estão mais na beira da praia.