Ela se sentou a minha perpendicular, quase de costas para o restante.
Despejou sobre a mesa um punhado de feijão. Sorriu, disse algumas palavras sobre o cardápio para o dia seguinte e começou a separá-los. Um a um. Os dedos fortes de unhas escarlate, se não me engano, dançavam entre aqueles pontinhos pretos. Um pra lá, um pra cá...um pra lá, um pra cá...
Alí, naquela tarefa simples, estava a vida, a rotina, o dia a dia, nossas escolhas, o que juntamos, o que separamos. Alegrias e tristezas misturadas. O dedo impositor, assim como nosso ego, a dizer isso é bom, isso não. E isso usando apenas um sentido, ainda que os olhos não nos permitam ver além da aparência. Está escrito, frase minha não é!
A essência, guardada no sabor, ah, só no dia seguinte, quando a feijoada for servida.
Mas aí já pode ser tarde...o sabor, ficou na mesa, no canto da cozinha...