domingo, 28 de fevereiro de 2016

A feijoada

Estava sentado no canto da mesa. A cozinha era relativamente pequena, mas do tipo aconchegante. Armários de um lado, a pia e o fogão do outro, tomando toda a parede. No canto oposto ficava a geladeira. 
Ela se sentou a minha perpendicular, quase de costas para o restante.
Despejou sobre a mesa um punhado de feijão. Sorriu, disse algumas palavras sobre o cardápio para o dia seguinte e começou a separá-los. Um a um. Os dedos fortes de unhas escarlate, se não me engano, dançavam entre aqueles pontinhos pretos. Um pra lá, um pra cá...um pra lá, um pra cá...
Alí, naquela tarefa simples, estava a vida, a rotina, o dia a dia, nossas escolhas, o que juntamos, o que separamos. Alegrias e tristezas misturadas. O dedo impositor, assim como nosso ego, a dizer isso é bom, isso não. E isso usando apenas um sentido, ainda que os olhos não nos permitam ver além da aparência. Está escrito, frase minha não é!
A essência, guardada no sabor, ah, só no dia seguinte, quando a feijoada for servida. 
Mas aí já pode ser tarde...o sabor, ficou na mesa, no canto da cozinha...

Cem palavras...Sem Palavras!!

Uma, duas, três...conte-me, se nada melhor houver para fazer, ou, simplesmente reflita. 
Palavra que sou, já tenho certeza das minhas escolhas. Ora verbo, ora substantivo, objeto direto ou indireto, adjetivo, advérbio, pronome, às vezes até, indefinida.
Sentidos tenho muitos, e estou sempre disposta a repensá-los. Sou viva!
Arrogante às vezes, dura, sarcástica, má, cínica. Sutil, flexível, doce, carinhosa sim, apaixonante...
Estou em suas mãos! E se de mim exige clareza, deveria cobrar de si cuidado como me usa.
Nada é pior que sentir-me sozinha, como quando alguém diz "estou sem palavras", para o bem ou para o mal...nada!!!