sábado, 21 de agosto de 2010

Alô, alô

Cheguei à poltrona e ela estava ocupada. Ocupada também estava a moça. Por volta dos trinta, morena, magra, celular no ouvido e falando alto.
Eu ia dizer que aquele era o meu lugar. Havia chegado cedo ao aeroporto para fazer o check in, justamente para conseguir um lugar na saída de emergência.
Classe econômica sabe como é: aperrrrtaaadooo!!!
Alí, pelo menos, consigo esticar as pernas. Meu lugar era ao lado da janela, mas deixa pra lá...
- Tudo bem, pode ficar.
Sentei na poltrona do meio. Abri o livro e resolvi relaxar....
Quase vinte minutos se passaram até que todos os passageiros estivessem acomodados e as portas do avião fechadas. Foram vinte minutos da moça falando ao telefone.
- Menina, fiz os exames...daquele probleminha que eu te contei...é, quando estava menstruada...
Daí pra frente relatou os conselhos médicos e os cuidados que deveria ter nos próximos dias.
Eu, e pelo menos metade dos passageiros ficamos com dó do namorado. Ah, ela também, pela papo...
Lembro, quando criança, que os mais velhos diziam que era falta de educação ficar ouvindo a conversa dos outros.
O que dizer dos tempos atuais???

sábado, 7 de agosto de 2010

Meu pai, meu amigo

Já se vão trinta, trinta e poucos anos...a arrumação começava logo cedo em casa. O tal do “lúdico” sempre fez parte da vida minha e de meu irmão.
Um enorme caixote, papai preenchia com serragem até o topo. Depois colocava peixinhos numerados em forma de cartolina com uma pequena argola na boca. Atrás desse mar de fantasia, havia sempre uma prateleira com inúmeros brinquedos.
Uma fita separava a criançada dos prêmios e aqueles que conseguiam pescar, ganhavam. Simples, mas muito divertido...
Em outras ocasiões, papai nos vendava. O objetivo era estourar uma grande bexiga, cheia de balas e doces, presa no teto. Com uma vareta na mão virávamos o centro das atenções. A cada tentativa um murmurinho se espalhava pela sala. Mais pra lá, mais pra cá...
Ao longo da vida, nossas brincadeiras de criança se repetiram inúmeras vezes. A cada peixe fisgado, meu pai esteve lá. A cada peixe que deixamos escapar, meu pai esteve lá. A cada tentativa de estourar as bexigas, meu pai esteve lá...
Nem sempre comemoramos, mas sempre estivemos juntos. Ainda que ele quisesse nos guiar, deixou que seguíssemos nossos caminhos. Não deve ter sido fácil, bem sei, mas aí está a sabedoria.
Se da casa dele partimos em busca de nossas histórias, para casa dele voltamos para contar nossas aventuras. É sempre bom avistarmos um porto seguro em alto mar!