segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Gente besta

Menos de um metro quadrado. A porta se abre. Maldita hora, por que não desceu direto?
- Bom dia...é o máximo que falam.
A porta se fecha. Olham para um lado, para o outro. Cruzam os olhares no espelho, justamente quando tentavam olhar para algo que não o outro. Na parede, o recado já tantas vezes lido em outras tantas situações como essa. Nenhuma atenção!
Mexem no celular, mesmo sem chamada alguma. Olham para os pés, como se procurassem uma saída. Ela não chega...
Fração de minutos que parecem uma eternidade.
Um pequeno solavanco e a porta se abre. Os dois querem sair rapidamente dali, ganhar a rua, respirar. Deixar par trás a presença do outro.
Quando voltarmos para casa, quem sabe não seria melhor subir pela escada. Isso se ela não pensar a mesma coisa...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ponto de vista

Tomo emprestado uma frase do teólogo Leonardo Boff: "Todo ponto de vista é sempre a vista de um ponto". A grandeza desse pensamento está justamente na pequenez da nossa significância, pressupõe, de antemão, humildade para o debate de ideias.
E como é bom discutir! As verdades absolutas nos emburrecem, nos ofuscam a visão, nos deixam na boca um gosto amargo. Não pela derrota em uma discussão, como se houvesse vencedor e vencido, mas sim, pela perda da discussão.
Ah, como carecemos disso...o diploma para o exercício do jornalismo, por exemplo, voltou à cena, ontem. A Comissão de Justiça da Câmara aprovou o projeto que prevê a obrigatoriedade e agora vai para a análise do plenário, mas enfim...
O que importa é menos a decisão final, e mais a discussão que se abre.
Entendo que qualquer pessoa possa ter habilidade para ser jornalista. Não significa competência. Essa é forjada, trabalhada, aprendida.
A universidade é tão somente um filtro, não para a reserva de mercado, como muitos apregoam, mas para o conhecimento, ainda que discutamos a eficácia das nossas instituições de ensino. E devemos, urgentemente.
Valorizo sim o talento, mas a exceção não valida regra...
Acredito no dom, mas prefiro a paixão...é esse tipo de gente que faz a diferença!
Liberdade de expressão? Sim, irrestrita...sempre. Só não entendo porque o conceito é invocado nesse caso. Não confundamos as coisas...falar o que se quer não cabe no jornalismo. A busca pela imparcialidade é premissa básica, nossa razão de ser.
E por último, dizem que a exigência do diploma universitário priva o jornalismo do conhecimento de especialistas de áreas diversas. Bobagem! Sejam colunistas, promovam o debate de ideias, nos enriqueçam com pontos de vista diferentes.
Quem sabe possamos discutí-los saboreando um bom prato feito por um chef de cozinha ou por um jornalista. Lembram???

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Pra sempre

Não sem motivos esse espaço se chama Palavra por Palavra. É minha ferramenta de trabalho, minha paixão verdadeira...

Por vezes doce, por vezes duras...amargas tantas outras. Concretas, abstratas, sutis, quase a espreita. Sussuradas, gritadas, as não ditas...amo as de uma cor só, preto no branco. As cinzas e as coloridas me deixam extasiado.

Amo aquelas com sabores variados, de aromas que enchem as narinas. As que esperamos, as que nos pegam de surpresa, as que nos fazem seguir adiante, as que nos deixam estáticos. Como as desejo...simples, rebuscadas. As que transbordam emoção, vivacidade, confiança. As que nos deixam com os pés no chão, as que nos jogam pra cima, as que nos impulsionam.

Tenho um carinho especial por aquelas que nos ajudam a enxergar quem somos, a corrigir nossa trajetória, as que deixam dúvidas pelo caminho.

Amo as petulantes, as corajosas, aquelas sem muitas certezas, dúbias até...amo aquelas que me trazem lembranças.

E nessa paixão louca, só encontro uma palavra para agradecer os comentários, as mensagens, os telefonemas, os e-mails, os abraços e beijos: Obrigado!!!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Por inteiro

Já se vai quase um mês que estive aqui pela última vez. Senti falta sim, muita. Precisava de um tempo, um lapso de tempo. Vivemos sem muito pensar, ou pensamos sem muito viver. O equílibrio é para poucos, não me incluo entre os felizardos.
Bom, hoje é o fim de um ciclo. Peço licença pra chorar...quem conviveu comigo nos últimos três anos no SBT sabe que vou sentir saudades. Lembro de uma música do poeta Gonzaguinha que diz assim: "Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas".
Aprendi, como aprendi! Se na correria do dia a dia, por alguns instantes você parar e olhar a sua volta, vai perceber quão rico é o nosso ambiente. E por isso, só por isso vou sentir saudades.
Saudade dos embates, mais que das brigas...das emoções, mais que do racionalismo sem sentido...das dúvidas constantes, mais que das verdades absolutas...dos medos, mais que da coragem...da vontade em fazer, mais que da falta de estrutura...do bolo de cenoura da tia da Daiane, mais que dos biscoitos roubados de mesa em mesa.
Vou sentir saudade da precisão do Diamante, da fluidez do Sérgio...do bom humor da Camila, do choro da Majô, do desapego da Márcia...da garra das meninas da pauta, como vou sentir saudades!
Vou sentir saudade das extravagâncias do Rodrigo, do apoio incondicional da Valentina, do tesão do Diego, das sacadas do Celito...vou sentir saudade do comprometimento do Thiago, dos medos da Roberta...vou sentir saudades do carinho do Adriano, das confusões do Taylor... saudade da parceria com o Morango, das piadas do Flavinho, das explicações do André Calvi, da meiguice da Belinha...vou sentir saudades!
Saudade das ideias do Luizinho, da dedicação da Camila Amaral, das tiradas da Cilene, da tranquiliade da Fabi...vou sentir saudade da correria do Wil, das preocupações da Eli...vou sentir saudade de gritar do outro lado da redação "e aí monstro!!!"
Vou sentir saudades por inteiro!!!

sábado, 10 de outubro de 2009

Ocupar, invadir 2

Quero voltar ao tema. O comentário do Renan, no post de quarta-feira, merece uma resposta. O MST pode ter sim motivos legítimos. No entanto, isso não nos permite escolher uma ou outra palavra para descrever a ação, seja por simpatia com a causa histórica da reforma agrária ou não...ocupar terras que não lhe pertencem é invadir!
O uso incorreto das palavras deixa dúvidas no ar. Por exemplo, neste sábado, a Folha de S. Paulo trás uma reportagem sobre a área onde está localizada a fazenda da Cutrale, invadida pelo MST na semana passada.
Segundo o jornal, o Incra - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - diz que a fazenda está em uma área da União, ou seja, patrimônio público. O jornalista define as empresas que teriam titulos de propriedade irregulares de "ocupantes".
Ora, se ocuparam uma área que não as pertencia são invasoras...ou será que elas merecem um tratamento diferenciado?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Desafios

Para quem luta por um jornalimo de qualidade aí vai um afago na alma. Um pesquisa realizada pelo Ibope Mídia, divulgada essa semana, mostra que o consumidor de notícia está preocupado com a qualidade da informação, muito mais do que com a plataforma utilizada. Ou seja, pouco importa se informação está no jornal, no rádio, na tv, na internet.
Ontem, na reportagem do Estadão, a gerente de Marketing do Instituto, Julia Sawaia, diz que "o conteúdo é o grande protagonista e, por isso, o desafio da era de convergência é transformar a quantidade de informação em qualidade".
Outros três aspectos me chamam atenção: 53% dos 800 entrevistados se dizem pressionados pela quantidade de informação dos dias atuais e quase a metade aponta a falta de tempo como um dos grandes problemas nos próximas dez anos. Sem dúvida, essas são questões impactam diretamente o modo como produzimos e diponibilizamos notícia. É hora de se pensar, todos nós...
O último ponto destacado pelo estudo é que 77% das pessoas ouvidas apontam a televisão como o item mais importante do dia a dia, o que aumenta e muito nossa responsabilidade.
O desenvolvimento da tecnologia nos impõe, desde já, principalmente em termos de mobilidade, um novo desafio. Mãos à obra!

Sempre

Infinita dor…finita cumplicidade. História nossa, linha sem começo, sem meio...linha feita de minúsculos pontos, pintados pouco a pouco, dia a dia. Linha que avança e recua para avançar e recuar novamente, finita vida, de infinita beleza.
Símbolo marcado no corpo. Difuso na alma. Infinitos significados de tão finitos sentidos...motivos infinitos, desculpas infinitas.
Ainda que a razão faça do amor algo finito, o desejo há de fazê-lo infinito.
Linha sem começo, sem meio, sem fim...infinitamente!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Ocupar, invadir

Não são palavras sinônimas, mas usadas como se fossem. Deixamos de lado a premissa básica da precisão ao escrevermos uma ou outra, e ajudamos a confundir. Ou seria justamente uma ação discriminatória, tratar de modo desigual ou injusto, com base em preconceitos de alguma ordem?
O fato é que, não raro, movimentos sociais como, MST, acusam a imprensa de serem tratados justamente de forma preconceituosa. E pior, dizem que criminalizamos as ações.
Não quero aqui discutir as formas de luta escolhidas, mas tão somente a escolha das palavras, pois dela depende a imparcialidade almejada pela nossa profissão.
Ocupar e invadir denotam significados diferentes, tanto é assim, que o próprio lema do MST é "ocupar, resistir, produzir".
Ocupar é tomar posse, invadir é entrar como por direito próprio...ocupar deixa no ar um sentido menos agressivo do que invadir.
Nesta terça-feira, ao retratar a ação do MST em uma fazenda no interior do estado de São Paulo, diversos veículos usaram umas vezes ocupar, outras invadir.
Ora amigo, o uso indiscriminado das palavras é que dá margem para que sejamos acusados de criminalizar, de caso pensado ou por pura falta de conhecimento das nuances da língua portuguesa.
Repito aqui algo que já disse em outro post: não temos inimigos para atacar, nem tão pouco amigos para defender.
Portanto, simpatias ou antipatias a parte, por mais que o MST queira, ocupar propriedade alheia sem ser convidado é invadir.
Sejamos claros!!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Terra de índio

Assuntos com envergadura política, econômica e social tendem a receber tratamento mais primoroso dos veículos de comunicação...quando se trata de questões indígenas não é bem assim. E olha que há um projeto de lei do governo para permitir a realização de negócios nas terras do índios.
As reservas correspondem a 13% do território nacional e guardam riquezas minerais e energéticas. Pela exploração, os índios vão receber royalties e terão preferência na contratação de mão de obra.
Volto a dizer: é um assunto com envergadura econômica, social e política, mas não temos dado a devida atenção...
Dos jornais de hoje, apenas o Valor trouxe uma reportagem de meia página. Vale destacar que o projeto mexe com dois setores importantes: mineração e energia elétrica.
Ao ler a matéria, lembrei de um texto que vi, pela primeira vez, no Programa "Provocações", da Tv Cultura...http://www.forumeja.org.br/guaicaipuro



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Simples assim

Inunda os olhos, fecha a garganta, embarga a voz...escorre lenta, lentamente pelo rosto. Contida apenas pela apreensão momentânea. Não há vergonha, não há medo, tão pouco raiva. Não remói sentimentos, extravasa. Não nos destrói, humaniza. Nos mostra o quão singular somos e o quanto plural queremos ser.
Pertencer a algo, admirado. O todo nos une, valoriza nossa auto-estima. Não há razão para tanto...mas o que importa? Hoje, pelo menos hoje, somos vitoriosos...simples assim.
Choro...ainda choro! Que ótimo...

Amigo traído é sempre o último a saber...

Imagino como deve estar se sentindo o delegado José Alberto Mesquita, responsável pelo caso da explosão da casa de fogos de artifício em Santo André, na semana passada. Ao apresentar o proprietário do estabelecimento para a imprensa, em entrevista coletiva, chamou Sandro Castelani de "nosso" amigo. Ora, o amigo não contou que mantinha em um depósito nos fundos da oficina do cunhado 1,5 tonelada de fogos. A polícia só descobriu ontem, por meio de uma denúncia anônima.
E agora? E como ficam alguns colegas da imprensa que, mesmo antes das investigações, já embarcaram na versão amistosa do delegado?
Já disse, no post "Amigo, de quem?", que não acho que devemos julgar a priori, mas desconfiar das versões apresentadas é mais que um direito do jornalista, é um dever.
Não temos inimigos, nem tão pouco amigos...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Meu tempo

Lá pelas tantas, tantas horas se vão...respira serena a noite, certa que a madrugada vai chegar.
O sono ainda não veio, mas virá, mesmo que seja lá pelas tantas...cinco, seis, sete, segue o ponteiro segundo a segundo. O dia se aproxima antes de lá pelas tantas da manhã. E nesse lapso de tempo hei de voltar a sonhar...lá pelas tantas de um dia qualquer, de uma noite qualquer. Não há que se ter precisão, diferença não faz. Lá pelas tantas acordamos!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Do outro lado

Gotas minúsculas, sequer escorrem pelo vidro. Formam desenhos que só a imaginação pode criá-los. Não estão lá para quem não quer vê-los...no fundo, o reflexo da luz. Uma outra janela, mais fechada que aberta. Um pedaço de cortina que se permite ver. Um vazio. Observo por alguns minutos, ninguém se mostra.
Mas há alguém, deve haver alguém. Percorro com o olhar a fachada do prédio. Volto à janela. A única com uma luz, amarela, suave...nem uma sombra, nem um movimento. Talvez alguém tenha dormido sem se dar ao trabalho de desligar a luz...talvez, de propósito, tenha deixado acesa com medo do escuro...talvez esteja no outro canto do quarto onde a vista não alcança, trabalhando, lendo...talvez esteja ao telefone, talvez...nenhum movimento ainda, nada. Talvez esteja em outro ponto, no escuro a me olhar, observando.
Me incomoda o pensamento. Apago a luz!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Amigo, de quem???

Uma imagem reveladora, uma frase que escancara. Nem todos que ali estão percebem, mesmo que todos que ali estejam tenham a obrigação de perceber. É nas sutilezas que as histórias se diferenciam.
Todos os microfones estão a postos, tomam a mesa. Atrás dela, suspeito e delegado. É uma entrevista coletiva, onde quem vai acusar divide a cena com quem "deve ser acusado", amigavelmente. Aliás, o delegado apresenta o suspeito como "nosso amigo Sandro".
O amigo dele é o dono da loja de fogos de artifício que explodiu na semana passada, em Santo André. Duas pessoas morreram, doze ficaram feridas, dezenas de casas destruídas...Sandro desapareceu por três dias, escapou do flagrante.
Não acho que ele deve ser condenado a priori, nem pela polícia, nem pela imprensa. Tudo pode ter sido uma fatalidade e não resultado da irresponsabilidade do proprietário. Havia até então a suspeita de que ele fabricava os fogos, apenas suspeita...
Agora, delegado e suspeito de um crime lado a lado em uma entrevista coletiva não lembro de ter visto. A não ser que sejam mesmo bons amigos...aí, por favor, convidem a imprensa para uma grande pizza.

sábado, 26 de setembro de 2009

Um brinde

Verde, um verde translúcido. Dois dedos apenas no copo e uma pedra de gelo mergulhada. Na boca um gosto de ervas, forte. Não queima, mas a sensação é de ardor. Ganhei de um casal de amigos, bons amigos...
É meu brinde a chegada do final de semana. Madrugada adentro e um vento gelado entrando pela porta da varanda entreaberta. Eu, o copo de licor e o cigarro. Já dizia Lobão, quando menino eu ainda era, tudo isso não é vício...são companheiros da solidão...
Não aquela que sequer pede licença para entrar em nossas vidas, não. Sozinho comigo, com meu espaço, com minhas dúvidas e certezas, com minhas próprias vozes, com meu silêncio. Quando embalado por uma canção ao fundo, baixinha, nada melhor. É como visitar minha história, refazer os caminhos que me trouxeram até aqui ou imaginar as bifurcações que ainda terei pela frente.
Um tempo, raro tempo para saborear a vida!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sempre bandidos e mocinhos

A vítima libertada, o bandido morto. Um tiro na cabeça.
- Uma ação bem sucedida da polícia...com muitos aplausos da população.
Foi assim que a repórter da rádio CBN terminou a matéria sobre um assalto seguido de sequestro, hoje, no Rio de Janeiro.
Como assim, amiga?
É até compreensível que como cidadã ela tenha o discurso do senso comum. Há, sim, um clamor popular por respostas mais severas da polícia em relação aos criminosos, fruto, em muitos casos, da própria insegurança.
Agora, amplificar o discurso em rede nacional é, no mínimo, falta de responsabilidade. Não é tarefa nossa atribuir juízo de valor aos fatos, portanto, não tem cabimento dizer que a ação foi " bem ou mal sucedida".
Os atiradores de elite são uma opção tática da polícia, treinados e amparados na lei. Não são heróis, como ouvi o apresentador de um dos programas da tarde dizer. Também não devem ser considerados vilões quando erram...são profissionais, pagos pelo Estado, com a função primeira de preservar vidas, qualquer que seja.
Fujamos dos arquétipos!!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Ah, o alvará!

É curioso como as coberturas jornalísticas ganham sempre um tom. No caso da explosão da loja de fogos de artifício em Santo André parece que é a negligência... do proprietário sim, da prefeitura sim. Um porque não seguiu as normas de segurança e sequer tinha licença para funcionar, o outro porque não fiscalizou como é sua obrigação.
Mas no enredo dessa história faltava o drama, aquele ingrediente capaz de sensibilizar as pessoas, de fazê-las parar por um instante e prestar atenção no desenrolar dos fatos.
Na tarde de hoje, a explosão! Imagens captadas pelo celular pipocaram na internet; helicópteros no ar; ritmo frenético nas redações. Uma, duas, três, sabe-se lá quantas vítimas... A história do comerciante que vendia fogos de artifício sem licença e da prefeitura que não fiscalizou está sendo finalmente contada....a história que nós jornalistas negligenciamos.
Mais de 80% dos estabelecimentos comerciais em São Paulo não têm alvará de funcionamento, resultado tanto da burocracia do sistema, quanto da má-fé.
Lembro de um amigo que me dizia sempre que o leitor, o ouvinte ou o telespectador nos dá todos os dias um "alvará" para falar em nome deles, cobrar quem deve ser cobrado. Negligenciar a isso é como deixar a nossa licença perder o prazo de validade...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ainda é tempo

A terça já se foi...que venha a quarta-feira. Madrugada ainda...ainda não jantei, ainda não veio o sono, não desliguei ainda. Pelo contrário, despertei!
Acabara de navegar por um blog (http://www.umacasaoutravida.wordpress.com/) de um trabalho de conclusão de curso. Me senti incomodado.
Dois meninos, três meninas. Classe média, famílias estruturadas, até onde eu sei...cursam o último ano de jornalismo.
Estão descobrindo agora que lá fora há um mundo muito maior que o mundo deles. Cruel, inóspito, duro, por tantas vezes sem perspectiva. Dói, como dói...
Não há mais segurança, não há mais certezas absolutas. A dúvida é a nova companheira. Quem sempre discorreu sobre tão diversos assuntos com a petulância da juventude, aprende a ouvir.
Novos sentimentos vão sendo forjados. A repulsa, a empatia, o desejo de fazer algo. A realidade vicia-nos...queremos mais, sempre mais!
Por alguns instantes nos sentimos culpados. Bebemos desse elixir, mas não nos parece correto. A sensaçao não nos impulsiona à ação...ressaca!
É hora de vomitar, por para fora aquilo que engolimos. Conte-nos as histórias, cada gole, cada trago...e brindemos!
Ainda é quarta-feira, ainda há um longo caminho a percorrer, ainda é tempo de fazer jornalismo de qualidade...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Bronca

- Entrei no blog e o último texto é de sábado?!
Uma mistura de bronca e decepção...e ela tinha razão, afinal escrever diariamente é o mínimo de respeito com quem se dá ao trabalho de ler o que acho que tenho para dizer. Enfim...
Nesses últimos dias algo tem me incomodado. Conversando com alguns amigos levantamos diversas histórias de jornalistas que usam a profissão em benefício próprio. E nada, nada é pior que isso.
Imagine-se em uma cobertura de apreensão de material pirata. Milhares de bonés falsificados. Sem a menor cerimônia o colega pergunta para o delegado:
- Posso levar alguns pra mim??
Não amigo, não pode... mesmo que essa não tenha sido a resposta da "autoridade". Aliás, não poderia sequer perguntar. É crime, é indecente, é porco!
O que você diria se um policial, ao conseguir recuperar um produto roubado, como uma quantia em dinheiro, por exemplo, se apoderasse de uma parte para ele?
Com que moral podemos falar de assuntos como esse, se agimos tal qual o bandido? Não é uma questão de valor da mercadoria, mas de princípios.
Lembro de uma reportagem que queríamos fazer sobre fraudes cometidas na renovação da carteira de habilitação. Uma jornalista, com o limite de pontos já ultrapassado, se dispôs a emprestar o documento para que mostrássemos como funcionava o esquema que retirava a pontuação do motorista. Feito isso, entregaríamos a carteira para o Detran e questionaríamos o órgão sobre a fraude.
- Não, aí não. Quero ficar com o documento limpo.
Pouco importa se isso era completamente contraditório com o que queríamos retratar. Na cabeça dela, se é possível levar vantagem, por que não?
É como o jornalista que quer assistir uma peça de teatro, filme ou show e liga para o assessor de imprensa solicitando o ingresso. A famosa "carteirada", sabe?
Quer? Pague. Não pode haver outra forma... a não ser para aqueles que acreditam que ética é um conceito abstrato, sem relação alguma com as miudezas do dia a dia.
Aí, bom, aí a decepção nem vale uma bronca...

sábado, 19 de setembro de 2009

A escolha é de quem?

Enfoques diferentes sobre os assuntos são sempre bem-vindos. Quando se trata de publicações semanais então, que têm como um dos principais objetivos aprofundar os fatos mais relevantes, são imprescindíveis.
A questão é quando o enfoque subverte o conteúdo informativo. É justamente com essa sensação que fiquei ao ler as reportagens sobre a indicação do Advogado Geral da União, José Antônio Toffoli, para o Supremo Tribunal Federal.
A "IstoÉ" trata o assunto apenas com uma nota. A "Época" direciona a reportagem para o fato do advogado ser a oitava indicação de Lula para a mais alta corte do país, as afinidades políticas com o PT e destaca algumas vitórias de Toffoli à frente da Advocacia-Geral da União.
Já a "Veja" não fala nada sobre a atuação dele no governo, pelo menos não no governo federal. A revista relata dois processos decorrentes de contratos celebrados com o governo do Amapá, entre 2000 e 2002.
Todas as informações publicadas são importantes para que o leitor possa formar uma opinião sobre o assunto. Mas, detalhe: ele só consegue isso se ler mais de uma publicação.
Em nome do enfoque, o leitor acabou sendo privado. Os veículos têm o direito de elencar aquilo que consideram mais relevante, mas que fica um ranço de trabalho mal feito, isso fica. Sem falar na falta de respeito com quem pagou R$ 8,90 por cada revista...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O resto é festa...

Dois técnicos, dois campos distintos...os dois foram criticados, os dois ameaçados de demissão, os dois superaram a crise.
Futebol e economia. Radinho de pilha no ouvido, bandeira na mão e uns trocados no bolso para a cerveja e o churrasco. O resto é festa, como diz um amigo.
Simplista? É sim, mas é a vida real de boa parte dos brasileiros. É como um termômetro.
Me pergunto se nesse último ano conseguimos captar a temperatura desses dois campos. Dunga foi criticado por não mexer na seleção...Henrique Meirelles por ser lento nas mudanças no Banco Central.
Até aí, tudo bem, a crítica faz parte do jogo. Mas será que não exageramos? Será que não demos mais atenção aos sinais negativos? Será que não valorizamos a velha máxima de que boa notícia é notícia ruim?
Eu acho que sim...essa semana, uma frase do Henrique Meirelles, presidente do Banco Central , no Especial Pós-crise, da revista Veja, chamou a atenção: "Penso que as críticas derivam do mau entendimento do que ocorreu e de um equívoco de avaliação. Isso me deixa um pouco entristecido. É como se o país tivesse entrado e saído da crise por obra de uma magia, sem que nada tivesse sido feito para atenuar os efeitos do choque externo".
Pois é, não me parece que Meirelles ataque para se defender. Assim como não é o estilo de jogo de Dunga. Questionado se as falhas argentinas não influenciaram a vitória brasileira, soltou a bomba: "No Brasil, em nenhum momento a gente tem mérito. Quando a gente ganha, é a Argentina que falhou. A gente treinou a bola parada durante a semana, mas a pergunta é esta. A gente nunca tem mérito. É difícil, é complicado."
Nós jornalistas podemos, comodamente, tirar o time de campo e desprezar as críticas, ou repensar nossa tática de jogo e entender que somente sorte não garante placar. Mérito é notícia boa...e boa notícia!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Lições

Dias difíceis os que passaram...peço desculpas pela ausência! Vamos lá...
Em uma conversa com alguns alunos, um deles pediu que eu comentasse algo sobre o caso do italiano preso acusado de praticar crime sexual contra a filha de oito anos. Eles consideravam que a imprensa estava transformando o caso em outra "Escola Base". Para quem não se lembra, em 94, vários órgãos de imprensa publicaram denúncias contra os donos e quatro funcionários de uma escola, que estariam envolvidos no abuso sexual de crianças. A vida dos acusados foi virada de cabeça pra baixo, perderam tudo...no final, todos foram inocentados.
Bom, voltemos ao nosso assunto. Não vejo, no caso atual, que nós jornalistas tenhamos feito juízo de valor sobre os fatos. E isso me parece um bom sinal. Até porque, em coberturas desse tipo, logo se formam opiniões contrárias ou favoráveis, e não só entre os jornalistas. Por exemplo, no blog "Balaio do Kotscho" mais de 500 comentários foram postados sobre o tema. Muita gente dizendo que é uma questão de cultura, muita gente rotulando o italiano de pedófilo.
Manter o equilíbrio não é das tarefas mais simples. Crimes cometidos contra crianças geram, por si só, revolta. Nós somos impactados sim.
Por outro lado, a investigação corre sobre segredo de justiça, o que nos "obriga" a trabalhar com informações em off. Outro risco é basearmos a construção de nossas reportagens apenas no relato de pessoas que estiveram no local, sem levar em consideração os exageros ou tão pouco os preconceitos.
Não há receita para uma cobertura correta, mas há lições que podemos aprender. Atenção, sempre, é a melhor medida.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Burocracia

Histórias perdidas...porque perdida foi boa parte da vida. Abandonadas pelas famílias, esquecidas pela sociedade, enclausuradas pela justiça.
São crianças, apenas crianças. Caminhos parecidos e quase sempre o mesmo fim. Os abrigos tem centenas de histórias de meninos e meninas por serem contadas.
Não podemos contá-las. Perdidas vão permanecer as histórias. Vidas perdidas na burocracia.
Sob a tutela do estado, o Estatuto da Criança e do Adolescente é usado, muitas vezes, como uma barreira entre nós jornalistas e as crianças.
Protegê-las sempre, mas é fundamental ter em mente que falar dos assuntos relacionados a elas é antes de mais nada não esquecê-las. Já passaram por isso, lembram?
Há três semanas tentamos autorização para gravarmos entrevistas com alguns jovens abrigados, os mesmos que já retratamos em uma série de reportagens especiais no ano passado.
A resposta da promotoria? Há outros processos mais importantes...
Nosso pedido provavelmente será esquecido no fundo de uma gaveta, em algum cantinho...perdido!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Uma questão de foco

- Tik, tik...sim
- Are baba...ah, não, retrucou o outro.

Entre uma frase e outra soltavam uma dessas expressões indianas, que o sucesso da novela trouxe para o nosso cotidiano. Simples assim...até onde é simples entender dois sujeitos de sotaque nordestino arrastado conversando. Na linguagem deles tudo ia bem...a separá-los o balcão da padaria. Garçom e cliente riam das próprias palhaçadas com o novo vocabulário.

No caminho para o trabalho fiquei pensando na cena. Haveria uma história alí?? Sem dúvida. Algo capaz de ganhar o status de notícia? Difícil...pelo menos neste pequeno recorte da realidade.

Dá para ampliar a questão? A revista Exame tem um bom exemplo. Os dalits - pessoas consideradas impuras, intocáveis - foram retratadas nas páginas da última edição. A reportagem mostra o que algumas empresas indianas estão fazendo para incluí-los no mercado de trabalho.
De certo, a problemática é muito anterior à trama Global, mas é tão certo quanto o assunto hoje estar no imaginário das pessoas, ou seja, desperta interesse imediatamente.

O que quero dizer é que todo e qualquer assunto pode, sim, ser abordado por este ou aquele veículo. Tudo é uma questão de foco, para quem nós jornalistas estamos falando, afinal, nosso olhar é sempre o recorte da realidade.

Namastê, diriam os indianos...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Quando o básico vira qualidade

Por entre as frestas da persiana vislumbro um pequeno movimento na redação. Não tenho a visão completa, apenas um canto dela. O restante está separado da sala por uma tapadeira de acrílico, o que deixa o fundo sombreado. Vejo vultos. O murmurinho indica que há outras seis ou sete pessoas.
Na sala, no canto oposto ao do computador, seis monitores estão ligados, mas sem som. Dois vasos, um grande e outro pequeno, tiram um pouco o ar cinza das paredes e do chão. Pequena, mas não apertada. Até bem pouco tempo a disposição dos móveis era outra, melhor agora...
Essa breve descrição é sobre minha sala, onde estou neste momento. Antes de abrir o blog estava lendo a revista Exame e me deparei com algo que...bom, que achei que poderíamos refletir juntos.
A sessão Carta ao Leitor fala do novo correspondente da publicação em Nova Iorque. Logo no comecinho o texto explica que a decisão é a materialização de algumas crenças da revista e vale a pena transcrever pelo menos uma delas: "Acreditamos em estar perto dos fatos. Acreditamos que o contato com a realidade é uma das diferenças entre o bom e o mau jornalismo".
Pois é...lembra da descrição que fiz da sala? Não seria possível se eu não tivesse vivenciado o ambiente, se eu não o conhecesse. Estar perto do que se quer retratar é princípio do jornalismo. Dizer que acredita nisso é como levantar a suspeita de que há outra possibilidade. Não, não há...e não estou falando entre bom ou mau jornalismo, mas sim entre fazer jornalismo ou não.
Curioso como algo tão básico é vendido como um diferencial. Imagine uma propaganda de carro, por exemplo, anunciando que o veículo tem quatro rodas. Fantástico!!!
Jornalista que apura, que vai pra rua, que ouve pessoas, que se emociona, que se desespera, enfim, parece coisa rara. É como o político que alardeia as próprias qualidades, entre elas, ser honesto...não dá para acreditar!!!

sábado, 5 de setembro de 2009

Versões

Fogo, pedras, barricadas e muita, muita confusão. Microfones a postos e surge a versão oficial:

- A manifestação foi provocada pelos traficantes.

Assim sendo, ficamos todos mais tranquilos...nada saiu do lugar. Coronel falou, tá falado, certo? É fonte oficial, meu caro...

Durante a cobertura de um dos protestos chegamos a discutir o assunto na redação. O repórter queria valorizar a versão dos moradores, que insistiam que a manifestação havia sido provocada pela truculência da polícia.
Nós ponderamos que, apesar disso, era muito difícil eles se organizarem sozinhos. Optamos pelo caminho mais lógico talvez, sem dúvida mais fácil e nos deixamos seduzir pela versão da PM.
Aliás, a mesma versão para cinco das dez manifestações violentas ocorridas este ano em São Paulo e repercutida por todos os grandes veículos.
Bobagem, e das grandes. Quer saber? Em nenhum dos casos a polícia conseguiu provar o elo com o crime organizado. Em nenhum!
Nossa versão? Não fizemos direito nosso trabalho, nem na ocasião e nem agora, afinal, não demos a devida repercussão ao fato da polícia não ter conseguido provar o que disse.

Não é matemática

Sábado pela manhã, parado em frente a banca, sorriso entremeado nos lábios. No olhar, a dúvida...qual jornal comprar?
O assunto da capa era o mesmo, a crise econômica mundial. Acontece que um deles destacava uma ideia mais pessimista sobre o momento - Crise ainda não terminou, dizem EUA e emergentes - e o outro mais otimista - G-20 já discute pós-crise e fim dos pacotes de estímulo.
Enfoque diferente é regra, não exceção. E é aí que está justamente o sabor do jornalismo. Não há erro em nenhum dos casos, mas tão somente a informação foi trabalhada a partir de um ou outro prisma. Leituras diferentes de uma mesma realidade...e que assim seja sempre!
Três minutos passados, o rapaz em frente à banca toma a decisão...vai levar os dois, afinal, o conhecimento tem um preço, como diz um dos jornais, e sempre haverá uma mosca para te atormentar, diz o outro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Mais realista que o rei

Toca fogo, toca fogo...grita o morador.
Morador??? Sim. Revoltados com a morte de uma estudante de 17 anos, vítima de uma bala perdida, protestaram. Interditaram ruas de acesso à favela, queimaram veículos.
Moradores??? Sim. Dezenas deles...pais de família, trabalhadores, jovens e, claro, alguns vândalos.
Vândalos??? Sim. E mais, criminosos. Treze veículos incendiados...de outros tantos pais de família, de outros tantos trabalhadores, de outros tantos moradores...
Adjetivar o texto jornalístico é sempre muito complicado. Nas salas de aula ou nas redações país afora existe aquela regrinha básica de que não devemos atribuir juízo de valor. Relatamos os fatos, a conclusão cabe ao telespectador.
Isenção é sem dúvida nossa ferramenta básica. Mas, me perdoem os puristas, não nomear corretamente aquilo que se vê é fugir da responsabilidade, e no mínimo, ser mais realista que o rei.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A pedra verde

- Quando tiver sinal, aperta aqui pra atender, né?

Seu Manuel tem 78 anos. Há dois anos ganhou um celular, nunca usou. Não por que seja contrário à inovação ou porque não precise. É que ele vive em um outro Brasil, quase sempre esquecido, inclusive por nós jornalistas...
Se pesquisarmos no Google, seu Manuel nem desconfia o que seja, vamos perceber que a grande imprensa fala de tecnologia como se fosse algo presente na vida de todos. Quando o assunto é telefonia móvel, adoramos as manchetes do tipo "Em cada 100 brasileiros, 84 possuem celular"...
Os dados mexem com nossa auto-estima, e enfim nos sentimos um país de primeiro mundo, não é mesmo?
Talvez por isso, esqueçamos de procurar o contraditório. Lembra do seu Manuel?
Ele está fora das estatísticas de consumo, longe, muito longe dos grandes centros...em Cachoeira Paulista, no Maranhão, não há sinal de celular e raramente também de jornalistas em busca de histórias que realmente valham ser contadas.
Na semana passada, uma equipe do Jornal do SBT foi até o município e descobriu que a pedra verde que seu Manuel fala é a tecla para receber ligações.

sábado, 29 de agosto de 2009

Toca Rauuuulllll!!!!!!!!!

-Alô? Como estão as coisas por aí?
- O dia está parado, fraco...não aconteceu nada.

Será que a profecia do bruxo se concretrizou? Será que chegou o dia em que a terra parou?

O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabio que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
E o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar...

Será? Ou será que somos nós jornalistas que estamos fazendo o recorte errado da realidade?
Tudo bem que no final de semana boa parte das empresas fecha, os funcionários estão descansando, os políticos...bom, sei lá!
De qualquer forma, não faz muito sentido acreditarmos que não há boas histórias para serem contadas nesses dias. Talvez nosso olhar é que esteja intoxicado!

Afinal, como dizia Raul...

Quem não tem colírio usa óculos escuro
Quem não tem filé come pão e o osso duro
Quem não tem visão bate a cara contra o muro


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Prato Feito

Enter no teclado...na tela de projeção começa a história. Uma série de reportagens especiais sobre abrigos para adoção.
Na sala de aula, pouco mais de vinte alunos, os demais vão chegando aos poucos.
O drama das crianças abandonadas pelos pais vai se desenrolando e, apesar da carga emocional, é curioso como eles se dispersam. Aqui e ali surgem burburinhos. Alguns estão de olho na tela, na pequena tela do celular. Mandam mensagens, não há tempo a perder. Estão plugados ao mundo, são bombardeados por informação, mas tudo parece irrelevante...algo sem gosto, sem cheiro, sem vida.
Isso me assusta! E não adianta dizer para eles que nao há espaço no mercado para profissionais que não conseguem filtrar informação, que não buscam o olhar diferenciado...há, há sim! As redações estão apinhadas deles. Vivem reclamando das pautas, mas não proprõem nada.
Lembrei agora do Ministro Gilmar Mendes, que comparou jornalista a cozinheiro. Bobagem das grandes, mas por um segundo pensei que ele pudesse estar se referindo a esse tipo de jornalista. Esses cozinham o prato feito, mas nunca, nunca vão ter o prazer de saborear algo especial.
É a vida amigo...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Quem sabe??

Tentativa de roubo, roubo consumado, desacato à autoridade...ao todo foram seis passagens pela Fundação Casa.
Há sempre um chance, diriam alguns...ele teve outras cinco e voltou, gritariam muitos.
Nossa tarefa não é defender bandeiras, mas suscitar questionamentos. Buscar o equilíbrio sempre e não fortalecer os estereótipos. Não fazer do infrator um santo e atribuir todos os crimes cometidos a fatores externos, e ao mesmo tempo não deixar o senso comum conduzir nossa abordagem.
Neste tipo de reportagem o discurso discriminatório tem apelo para a população, é a postura mais fácil, principalmente por conta da absoluta falência dos sistemas de ressociabilização e pelo crescente sentimento de insegurança.
L.G.T hoje saiu definitivamente da Fundação Casa...cumpriu a última medida sócio-educativa.
Está empregado e talvez, apenas talvez, consiga dar um novo rumo a própria vida.
O final da história ainda está por ser escrito...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Hoje eu só quero que o dia termine bem

Saí da TV e fui encontrar um grupo de alunos para discutir o encaminhamento de um Trabalho de Conclusão de Curso. Cheguei depois das 11 da noite em uma padaria na Domingos de Moraes. Na mesa, uma porção de batata frita. Pedi um pedaço de pizza e um guaraná e fui comendo enquando eles contavam as novidades.
E tinham muitas. Viajaram para o Rio de Janeiro em busca de histórias de jornalistas que por conta da profissão sofreram algum tipo de impacto negativo, seja ele psicológico ou absolutamente prático, como mudar a própria rotina por medo.
Apesar de expostos constantementes a cenas violentas ou coberturas marcantes, nós jornalistas não contamos com nenhum tipo de apoio formal por parte das empresas. E não por elas se negarem, mas porque as abordagens em relação ao assunto, quando há, são ainda muito incipientes.
De qualquer forma, esse é um problema que precisamos discutir e os próprios entrevistados - jornalistas e psiquiatras - dizem que o tema é bastante relevante.
Não estamos preparados para enfrentar determinadas situações. Visualizar a cena de uma chacina, um desastre, uma tragédia ou simplesmente casos com uma carga emocional muito grande deixam marcas, sem dúvida. Isso sem falar em reportagens em que o jornalista acaba ameaçado de morte ou convive com um sentimento de impotência em relação ao fato denunciado. Enfim, estamos exposto e muitas vezes sozinhos...
Vim embora pensando nas cenas que haviam me marcado, nos dias que cheguei em casa abatido, nos cheiros que pareciam impregnados em meu corpo.
No rádio, a voz suave da Luciana Mello cantando Simples Desejo...hoje eu só quero que o dia termine bem...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Nossos limites

Um, dois, três tiros...arma em punho. O alvo é muito real, completa o repórter. Mais um, dois, três tiros...a cena choca!
A informação textual não está errada, mas é de um exagero descabido, o que faz com que a informação esteja, no mínimo, mal colocada.
Ao segurar uma arma, apontar para o alvo e disparar o repórter "tira" a agressividade que o gesto tem em si.
Alguns dizem que esse é o tipo de cena que vemos todos os dias, seja nos programas de entretenimento, seja nos telejornais.
Ainda assim, a credibilidade do repórter ou do veículo não pode estar a serviço tão somente do senso comum. Pelo contrário, devemos questionar os estereótipos.
E aqui cabe uma outra consideração. A produção de uma notícia será tanto melhor ou com menos riscos de erro quanto mais olhares se voltarem para o fato.
No caso da reportagem citada o editor percebeu o exagero e não permitiu que a cena fosse veiculada.
As linguagens plástica e verbal são nossas ferramentas para contarmos as histórias da forma mais interessante para o público, mas há limites...
Perdê-los é como dar um tiro no próprio pé!

Quanta bobagem

Telefones, reuniões, troca de e-mails, mensagens...ufa! Nada contra a comunicação, mas já reparou quanto tempo perdemos discutindo assuntos que não fazem o menor sentido? E pior, nem sempre conseguimos resolvê-los.
Por exemplo, o que dizer para um jornalista que tem uma notícia nas mãos, mas prefere guardá-la para divulgar só no dia seguinte??? Por que divulgar a informação hoje se eu posso dar amanhã???
Parece loucura, mas aconteceu hoje a tarde. E dá-lhe telefonar para a emissora e tentar explicar o inexplicável...

Claro, amigo...não vivemos mesmo em busca da novidade, dos assuntos quentes, de interesse público...não vivemos na era da comunicação instantânea, a qualquer hora, em qualquer lugar...que bobagem!!!

Acho que vale um último e-mail: vai pra casa querido!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A descoberta

Sábado, final de tarde. O telefone toca...

- Será que podemos nos encontrar agora?
- Aconteceu algo?
- Estamos saindo da favela e queríamos conversar sobre algumas idéias.

O grupo tinha ido até a Cidade Tiradentes, na periferia de São Paulo, para conversar com alguns moradores. Havíamos discutido durante a semana e definido mais ou menos o caminho do Trabalho de Conclusão de Curso. Lá foram eles...
Naquele momento não podia atendê-los, mas fiquei pensando porque tamanha empolgação. Não foi difícel chegar a uma resposta. Os olhos haviam captado uma realidade diferente. Sentiram cheiros, ouviram histórias. Por algumas horas se permitiram trazer a periferia para o centro do olhar. E mais que isso, vivenciaram...se despiram das certezas absolutas, das amarradas das pautas pré-definidas.
Curioso como os alunos repetem erros que tantas vezes nós jornalistas cometemos. As histórias estão na rua, nunca na redação ou na sala de aula.
Lembro de um amigo que sempre dizia que ser jornalista é como ter um passaporte que nos permite transitar por diversos "mundos".
Eu diria mais, é nosso dever!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O choro

Ele sentou-se na minha frente. Voz embargada me perguntou se eu lebrava de uma personagem retratada em uma série de materiais especiais sobre adoção que produzimos no ano passado.
Eu lembrava sim...um menino de pouco mais de 17 anos, abandonado pelo pai, que vivia em um abrigo e dividia a história com outras tantas histórias parecidas.
Na época, durante a entrevista, ele estava sentado em um balanço, a sinalizar que a vida é a busca constante pelo equilíbrio, mesmo para quem nasceu e viveu como no intervalo de tempo entre um ponto e outro do balanço.
Voltamos a procurá-lo essa semana. A idéia da nova série é mostrar o que aconteceu com aquelas crianças. Não o encontramos. O menino sumiu, voltou pras ruas. O fim repete o começo, quando o pai o abandonou...sozinho.
Ao me contar essa história o repórter chorou. Um choro doído, de impotência! Um choro de quem se envolveu com a reportagem, de quem não manteve a distância, de quem não se apegou a simplicidade do olhar de fora.
Por essas coisas é que vale fazer jornalismo. Por boas e muitas vezes tristes histórias a espera de alguém que saiba contá-las, com o coração...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O desafio de contar experiências

Essa semana entreguei os originais de um livro sobre reportagem para TV. Achei que teria um sentimento de missão cumprida. Que nada...depois da última leitura antes de mandar para a editora, o que senti foi a necessidade de continuar escrevendo. Jornalista tem sempre mais para dizer do que o espaço que lhe dão, assim como sempre acha que aquilo que tem para contar interessa para alguém.
De qualquer forma, é um exercício e tanto...reler a própria história, questionar os conceitos, pensar sobre formatos. Normalmente, fazemos tudo meio no automático. As coisas são porque são...ao transformar prática em teoria percebemos que nada é por que é!