sábado, 9 de abril de 2011

Histórias de nós

- Já fiz muita coisa errada na vida...
Entre um trago e outro no cigarro, intercalado por breves momentos de silêncio, como dando tempo para a voz da lembrança aparecer, aquele rapaz ao meu lado foi falando dos descaminhos por que passou.
- Esse negócio de que crack é doença...é safadeza, isso sim.
Ele conta que usou a droga por dois anos, mas um dia decidiu parar, de consumir pelo menos.
- Alexandre, eu ia buscar a pedra na boca e via os caras com carro novo, roupas...Aí pensei: esse negócio tá me dando prejuízo. Eu vou é vender.
Entrou para o tráfico e entre uma correria e outra repassava armas vindas do Rio de Janeiro para os morros capixabas.
- Um dia um colega me chamou pra “matá um cara aí”. Tirei o revólver da cintura e falei: Não tem bala meu véio! Aí rodamos a noite inteira procurando munição...até pro cara que estava marcado pra morrer nós pedidos. Deu sorte o camarada.
E ele também. Próximo de completar 24 anos lembra que quase todos os conhecidos daquela época morreram ou estão presos.
Hoje trabalha 15, 16 horas por dia. Faz o que tiver pra fazer, menos “coisa errada” como ele diz.
Puxei o maço de cigarro, ofereci um pra ele. Nossas histórias se cruzam todos os dias, mas nunca havia parado para ouvir como ele chegou até ali...