- Já fiz muita coisa errada na vida...
Entre um trago e outro no cigarro, intercalado por breves momentos de silêncio, como dando tempo para a voz da lembrança aparecer, aquele rapaz ao meu lado foi falando dos descaminhos por que passou.
- Esse negócio de que crack é doença...é safadeza, isso sim.
Ele conta que usou a droga por dois anos, mas um dia decidiu parar, de consumir pelo menos.
- Alexandre, eu ia buscar a pedra na boca e via os caras com carro novo, roupas...Aí pensei: esse negócio tá me dando prejuízo. Eu vou é vender.
Entrou para o tráfico e entre uma correria e outra repassava armas vindas do Rio de Janeiro para os morros capixabas.
- Um dia um colega me chamou pra “matá um cara aí”. Tirei o revólver da cintura e falei: Não tem bala meu véio! Aí rodamos a noite inteira procurando munição...até pro cara que estava marcado pra morrer nós pedidos. Deu sorte o camarada.
E ele também. Próximo de completar 24 anos lembra que quase todos os conhecidos daquela época morreram ou estão presos.
Hoje trabalha 15, 16 horas por dia. Faz o que tiver pra fazer, menos “coisa errada” como ele diz.
Puxei o maço de cigarro, ofereci um pra ele. Nossas histórias se cruzam todos os dias, mas nunca havia parado para ouvir como ele chegou até ali...
Alexandre, li no livro "Breviário de Decomposição" de Emil Cioran, o seguinte trecho:
ResponderExcluir"Entre os favorecidos da fortuna e os esfarrapados circulam esses esfomeados honoráveis, explorados pelo fausto e pelos andrajos, saqueados por aqueles que, tendo horror ao trabalho, instalam-se, segundo sua sorte ou vocação, no salão ou na rua. E assim avança a humanidade: com alguns ricos, com alguns mendigos – e com todos os seus pobres..."
seu post é bem proximo desta idéia...reocmendo a leitura a vc, vai gostar!
Gina
Fantástico, como sempre.
ResponderExcluirSaudações, caro Alê!
Bjs,
Grazi
Dar vóz a quem nos cerca é sempre bom.
ResponderExcluirEventualmente a supresa é grande.
;)