sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O choro

Ele sentou-se na minha frente. Voz embargada me perguntou se eu lebrava de uma personagem retratada em uma série de materiais especiais sobre adoção que produzimos no ano passado.
Eu lembrava sim...um menino de pouco mais de 17 anos, abandonado pelo pai, que vivia em um abrigo e dividia a história com outras tantas histórias parecidas.
Na época, durante a entrevista, ele estava sentado em um balanço, a sinalizar que a vida é a busca constante pelo equilíbrio, mesmo para quem nasceu e viveu como no intervalo de tempo entre um ponto e outro do balanço.
Voltamos a procurá-lo essa semana. A idéia da nova série é mostrar o que aconteceu com aquelas crianças. Não o encontramos. O menino sumiu, voltou pras ruas. O fim repete o começo, quando o pai o abandonou...sozinho.
Ao me contar essa história o repórter chorou. Um choro doído, de impotência! Um choro de quem se envolveu com a reportagem, de quem não manteve a distância, de quem não se apegou a simplicidade do olhar de fora.
Por essas coisas é que vale fazer jornalismo. Por boas e muitas vezes tristes histórias a espera de alguém que saiba contá-las, com o coração...

6 comentários:

  1. É por posts como esse que vale à pena fazer jornalismo com você. Obrigada por dividir mais um pouco de tudo que você é com a gente.
    Primeira visita. Bjs, GS.

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  2. A-M-E-I-!

    Eu, aliás, sou suspeita pra falar sobre isso..rs...choro pouco..rs...quase nada, né?!?!

    Amo muito tudo isso!!!

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  3. Este ano fui numa palestra da repórter Eliane Brum e ela disse exatamente isso "Devemos ir ao mundo com nossa fragilidade, para conseguir entender a fragilidade do outro"

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  4. Emocionante!

    Acredito que o mais importante é não deixarmos que a rotina jornalística nos tire a sensibilidade... e a sua, é tocante!

    Parabéns pelo texto!

    Beijos
    Deborah Slobodticov

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  5. Alê, que bom que ainda existem pessoas que sabem fugir daquela visão mecanicista, que muitas vezes,lembra uma linha de produção, que vem se tornando o jornalismo. Conversando com colegas, a maioria absoluta, mais experiente que eu, percebo que muito poucos conseguiram fugir do automatismo, da frieza da notícia. Esses poucos se lembram que não são máquinas de fazer lead e conseguem, sim, criar empatia com o entrevistado. Para mim, esse é o verdadeiro jornalismo... é contar histórias (lembra dessa frase? nunca mais vou me esquecer dela), é mostrar a realidade, mas com um olhar sensível. Beijos, parabéns pelo texto e obrigada por despertar em mim a vontade imensa de continuar contando histórias,
    Denise

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  6. Perfeito. Aliás, me lembro da única reportagem que chorei até hoje: no globo repórter rolava, em meados de 89-90, uma reportagem sobre a miséria no sertão nordestino. O repóter vai, entrevista a mãe, que fala que eles só comem farinha e tal, às vezes uma palma, e que passam necessidade pois são 5 filhos e o patriarca falecera.

    Aí, passam alguns comentários do repórter sobre a fome no nordeste, e tal. De repente, vem o básico momento sensacionalista Globo, onde o repórter vai entrevistar a criança. Na narração, o repórter comenta que eles não tem nada, escola ou mesmo comida. A meta é sobreviver. Aí volta para o repórter que vai perguntar o caçula as perguntas de sempre (escola, amigos, se tem fome). E então surge o momento espetacular.

    De repente o menininho, de uns 5 anos, vira para o "moço" e diz que é feliz sim. Tem fome, mas que a mãe faz o que pode. Aí o repórter, curioso com a resposta, emenda "e do que você brinca? brinquedos, você tem?", ao que o garotinho emenda, "Tenho brinquedos sim, brinco de fazenda. Esses aqui são meus bois e vacas" e mostra meia dúzia de ossos de galinha roídos e sujos no chão como se fossem seu tesouro mais precioso. O repórter não aguenta aquela cena e chora copiosamente. Realmente triste, mas daquelas coisas que mostram porque ainda se acreditar na humanidade do jornalismo.

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