sexta-feira, 9 de abril de 2010

Nossos cadáveres...

Histórias que não vão ser contadas...soterradas, enterradas, esquecidas.
A câmera apontada para o morro que já não mais existe. Gente que ganha uma cara tão somente na dor, no choro sofrido de quem tudo perdeu, ainda que até aqui os tenhamos tratado como se nada fossem, como se nada ali houvesse.

Muitos colegas falam agora em tragédia anunciada e eu pergunto: anunciada por quem?
Pela defesa civil, só ouvida quando o caos já está instalado? Por pesquisadores, relegados ao anonimato, principalmente quando se trata de questões sociais?
Anunciada por quem amigo? Por nós jornalistas?

Se por um instante pararmos para refletir vamos encontrar também nossos cadáveres. Contamos a morte, de certo por que ela se apresenta como a situação limite. Não percebemos que o limite já tinha sido há muito ultrapasso em vida por essa gente que no morro sobrevivia.

O morro do Bumba, em Niterói, era um lixão. Foi crescendo dia a dia, absorvendo sempre e sempre mais pessoas. Ainda assim, não anunciamos para todo mundo que se erguiam casas em meio ao chorume liberado por toneladas e toneladas de lixo...não, não contamos essa história, pelo menos enquanto a história acontecia.

De fato nada fizemos, a não ser esperar o fim, a tal tragédia anunciada.

Comovidos estamos todos com a situação no Rio de Janeiro, mas nós, jornalistas, devemos estar, acima de tudo, envergonhados por não ter contado a vida dessas pessoas ainda em vida.

4 comentários:

  1. Éh... copreende-se a tua revolta!!! Só não te esuqeças que assim tem de ser a vida... Linda e maravilhosa para uns e péssima e dolorosa para outros. Neste mundo de tantas injustiças, surge uma dúvida; porque razão tu não contastes a vida destas pessoas enquanto viviam? Tu também não és jornalista? Será que desta tragédia virão acções de melhoramento das pessoas que vivem em situação de risco no Brasil e em todo mundo? Sei lá o que vai acontecer com as outras pessoas agora!!!

    Lamento imenso pelos vossos cadáveres!!! Também tivemos muitos aquando da guerra que vivemos cá em Angola... Eu mesmo perdi muitos familiares!!!

    Meu Rey, continue com este teu lado humano de observar as coisas porque é dele que virá a tua salvação.

    Mude de tese e passe a acreditar na existência de Deus... Ele ainda fará muita coisa boa na tua vida... Podes Crêr.

    Bjs... Bruno Constantino... o teu seguidor assíduo.

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  2. Nossa Ale... vc disse exatamente o que estou sentindo esses dias. Essa tragédia é falta da nossa própria responsábilidade social sobre o que acontece. Pessoas nao deveriam morar naquela situaçao e nao pq havia o risco de desabamento, mas pq mereciam melhor condiçoes de moradia...

    Fico envengonhada...

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  3. Adorei o texto, como sempre, tua sensibilidade me impressiona. Mas o que o Bruno escreve, serve de bela reflexão para tua vida. Bruninho, tua maturidade, com tão pouca idade, muito me comove... Beijos, Guida.

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  4. Ah o texto do Alê!
    Uma palvra apaixonadamente entrelaçada à outra. Pontos e vírgulas que se completam, se grudam. Texto delicioso que agrada, ludibria e .... esbofeteia! Esbofeteia a face de uma jornalista que escreveu mais de um release com o título "tragédia anunciada". Não, não contei a história daquelas pessoas embora essa seja a paixão da minha vida.
    Te odeio pra sempre e desde sempre. Como você bem sabe.
    Um beijo grande da sempre fã,
    Grazi.

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