sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Mais um dia...

- Posso entrar?
A voz tímida, quase sem graça, constrangido mesmo. Ao sentar a minha frente se colocou cabisbaixo...
- Se algo acontecer comigo foi o meu filho.
Não entendi da primeira vez. Já tinha trocado algumas palavras com aquele homem, nada sobre família.
Minha expressão deve ter mostrado que a frase não surtiu o efeito esperado e ele logo completou.
- Meu filho está me ameaçando...disse que vai me matar.
Tomei um susto. Primeiro, não queria aquela responsabilidade. Imaginei chegar no dia seguinte para trabalhar e receber a notícia que aquele homem havia sido assassinado.
Segundo, o que eu podia fazer? Levá-lo a polícia?
Ele tinha medo. O filho poderia descobrir e as coisas ficariam ainda pior.
Ouvi o desabafo. Contou que o filho está envolvido com o tráfico de drogas e que outro dia chegou em casa todo sujo de sangue...
- Perguntei o que tinha acontecido e ele foi curto e grosso: matei um sujeito, o próximo vai ser você!!
Insisti que deveríamos ir a policia, mas não o convenci, ainda.
Hoje ele me deu bom dia...

Um comentário:

  1. O mais chocante disso tudo é saber que a história vai ser só mais uma. Porque todo dia tem uma igual e a gente não tem capacidade (técnica mesmo!) de mostrar o lado real disso. O lado humano de um problema real, grave e que não ganha a dimensão correta. Nem mais nem menos. Como dar dimensão se o canal não está preparado para isso? Não sabe o que fala nem sabe o que é a dor do pai? só descendo... e a gente desce...

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