segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Quando o básico vira qualidade

Por entre as frestas da persiana vislumbro um pequeno movimento na redação. Não tenho a visão completa, apenas um canto dela. O restante está separado da sala por uma tapadeira de acrílico, o que deixa o fundo sombreado. Vejo vultos. O murmurinho indica que há outras seis ou sete pessoas.
Na sala, no canto oposto ao do computador, seis monitores estão ligados, mas sem som. Dois vasos, um grande e outro pequeno, tiram um pouco o ar cinza das paredes e do chão. Pequena, mas não apertada. Até bem pouco tempo a disposição dos móveis era outra, melhor agora...
Essa breve descrição é sobre minha sala, onde estou neste momento. Antes de abrir o blog estava lendo a revista Exame e me deparei com algo que...bom, que achei que poderíamos refletir juntos.
A sessão Carta ao Leitor fala do novo correspondente da publicação em Nova Iorque. Logo no comecinho o texto explica que a decisão é a materialização de algumas crenças da revista e vale a pena transcrever pelo menos uma delas: "Acreditamos em estar perto dos fatos. Acreditamos que o contato com a realidade é uma das diferenças entre o bom e o mau jornalismo".
Pois é...lembra da descrição que fiz da sala? Não seria possível se eu não tivesse vivenciado o ambiente, se eu não o conhecesse. Estar perto do que se quer retratar é princípio do jornalismo. Dizer que acredita nisso é como levantar a suspeita de que há outra possibilidade. Não, não há...e não estou falando entre bom ou mau jornalismo, mas sim entre fazer jornalismo ou não.
Curioso como algo tão básico é vendido como um diferencial. Imagine uma propaganda de carro, por exemplo, anunciando que o veículo tem quatro rodas. Fantástico!!!
Jornalista que apura, que vai pra rua, que ouve pessoas, que se emociona, que se desespera, enfim, parece coisa rara. É como o político que alardeia as próprias qualidades, entre elas, ser honesto...não dá para acreditar!!!

2 comentários:

  1. Surpreendente a forma como conduziu o texto. Achei que seria um texto sobre sua rotina, sobre o ambiente que estava. E então surge um gancho para uma discussão tão relevante, sobre algo (infelizmente) raro. Quando termino de ler, concluo que se trata sim de um texto sobre vc: um jornalista que se emociona, que ouve pessoas, que se desespera.

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  2. O triste é que o desespero fica gritando, mas só aqui dentro. Dífícil constatar que o máximo que faço é me desesperar.
    Parabéns pelo texto.

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